Procurador de coisas

sábado, 21 de junho de 2014

Ser ou não ser?

Já ouvi algumas vezes: você não é pai, não sabe como é isso. Ouvi isso de quem fazia todas as vontades de uma criança. A vontade de fazer tudo que quer, tudo que uma criança quer, sem se importar com as consequências pra própria criança supera tudo de tange a coerência. O comentário, em si, já é incoerente, fora a atitude. O que nos resta questionar nessa vida diante de tamanho sábio argumento?

Pensei em comparar isso com alguns exemplos. Não é preciso forçar muito a mente. Recentemente, vimos protestos, nos quais se incluiu a questão de alguns centavos na passagem. Segundo a brilhante teoria do "você não é pai", poderiam dizer: você é dono de empresa de ônibus? Sabe quanto custa manter uma frota? Sabe dos impostos, dos custos, encargos trabalhistas? Isso vale para qualquer tipo de greve também. Dizer que é um erro haver uma greve de transportes causando colapso em São Paulo, como aconteceu há alguns dias, é burrice. Alguém aí é maquinista, motorista, cobrador, segurança de plataforma? Estudaram a fundo a evolução da defasagem salarial que sofreram nos últimos anos?

Quem sabe podemos incluir aí, também, os problemas comportamentais. O cara vai lá e rouba o seu relógio. Mas espera aí. Você foi criado em uma favela, num ambiente hostil, apenas pela sua mãe porque seu pai morreu no tráfico e sua avó morreu na fila do hospital? Aliás, ninguém é médico pra dizer que ele negou atendimento porque a prefeitura local não paga o seu salário há três meses e ele vinha trabalhando de graça durante esse tempo.

Quem pode reclamar da greve dos bancos? Seu boleto venceu e você vai pagar juros por isso? Lamento. Você não é bancário, portanto, não sabe que o bancário marca ponto e trabalha várias horas de graça por mês, que ouve desaforo o dia todo sem poder responder, que as cadeiras são inadequadas, que existe assédio por metas, mesmo no serviço público. Você não sabe que o banco não paga altos salários por ser banco e lucrar bilhões por ano. 

Dezenas de exemplos poderia ser citados, mas o que mais poderia derrubar essa estúpida teoria é que os seres humanos possuem uma coisa chamada individualidade. Temos nossas particularidades, portanto, fosse esse o argumento, ele já nasceria derrubado, pois se alguém é pai, mãe, avô ou avó tanto quanto o outro, estaria ele apto a, então, criticar uma atitude alheia. Esse argumento é tão burro que eu me atrevo a dizer que essa pessoa diria a mesma coisa pra outro ente de mesmo grau. Você não é pai, não pode falar. Pois é... Eu sou o sexto de sete filhos, o quinto homem, com pai aposentado e mãe dona de casa. Sou cinco anos mais velho que minha irmã e cinco anos mais novo que meu irmão. Minha família é protestante, sou baixo, sou músico, me faltam dois dentes, tenho entradas, tenho uma doença complicada. A não ser que apareça alguém com tudo isso aí, pelo menos, não poderá me criticar em nada. Minha criação, os ambientes que convivi, o meu trabalho, onde moro, por onde dirijo... isso tudo molda meus momentos para cada atitude.

A argumentação de ser para poder criticar me deixa livre para responder mal a um cliente porque o infeliz não sabe a semana de cão que eu tive.

Eu não preciso ser pai, até porque, olha que coisa, eu não posso ser mãe pra ser crítico a um pai. Se assim fosse, eu não poderia criticar meu próprio pai em nada até ser pai, mas aí ele se tornaria avô e eu teria que ficar calado de novo. Eu preciso apenas de coerência. Será mesmo que é preciso ser pai pra dizer a uma pessoa que é errado que uma criança consiga algo com pirraça, com grito, com manha? Eu já me surpreendi com um móvel destruído porque a pessoa disse que fazia qualquer negócio pra aquela criança ficar quieta. Já vi criança chorar porque alguém trouxe da rua um refrigerante que ela não queria e a pessoa voltar, na chuva, pra comprar. Eu preciso ser pai? Já vi criança de quatro anos rebolar sensualmente como uma mulher e todos aplaudirem. 

Eu não sou moralista. Tenho muitos, mas muitos defeitos mesmo. Mas é loucura achar que você não tem direito de criticar por também ter defeitos. E acaso alguém é perfeito? A foto do post é simbólica. Coisas assim acontecem porque mergulhamos nossas crianças no mundo liberal dos adultos. Mimamos nossas crianças tornando-as antipáticas. Conheço crianças mimadas sem ser pai. Pois é, acho que é exatamente não sendo pai que se vê certas coisas. Crianças mimadas são chatas, antipáticas. Nem adultos, nem outras crianças querem por perto e, fazendo tudo que querem, serão cada vez mais precoces nas atitudes inconsequentes e coisas como as da foto acontecerão mais e mais vezes.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

CAIXINHA

Fim de ano chegando e todos os dias, em vários lugares, nos deparamos com aquela caixa de sapatos envolta em papel de presente com motivos natalinos e um rasgo em cima. Algumas com mais caprichos, outras menos, mas elas estão lá. São as famosas caixinhas de Natal.

Quem teve essa ideia brilhante (temos aí também o livro ouro e coisas semelhantes), quem a difundiu e os milhões de adeptos não se deram conta do quão ilógico é a tal. Primeiro porque cada um ganha o seu salário e não existe um motivo no mundo que justifique uma contribuição de fim de ano. Alem disso, é injusto, uma vez que só alguns segmentos teriam o direito de receber. Qual a diferença entre um lojista, um garçom e um servidor público que prestam um bom serviço? Como fazem os que trabalham em fábricas, confecções, escritórios, os que não lidam com o público diretamente? O motorista e o cobrador recebem caixinha e o mecânico da empresa não? É uma maneira de levantar uma grana no fim do ano sem ter nenhum mérito especial por isso. Sei lá qual a justificativa. Ganhar pouco?

Outra coisa é que a gente "deve" contribuir com tantas caixinhas que haja contribuição! Posto de gasolina, restaurante, padaria, gari, carteiro, motorista do ônibus, motorista da van, aviário, mercadinho do bairro, oficina, guardador do estacionamento... E tem lugares que frequentamos todos os dias e rola aquele constrangimento pra contribuir sempre. Onde frequento pra almoçar todos os dias, a cada contribuição a mulher do caixa grita "caixinha!" e todos os funcionários emitem um sonoro "uhuuu!". A gente fica até sem graça de não contribuir tamanha a simpatia do pessoal... Posto de gasolina, se a gente não vai sempre ao mesmo, tem que ter paciência. Aliás, mesmo naqueles que a gente não frequenta o frentista pede na cara de pau.

A coisa é tão sem lógica que eu posso pensar somente na perda por não fazer parte dos privilegiados pela caixinha, mas imagino um vendedor que recebe caixinha. Das duas, uma. Ou ele tem dois pesos e duas medidas ou perde boa parte dos seus ganhos distribuindo dinheiro pelos comércios, afinal, é justo dar caixinha pra ele. Por que pros outros não?

Caixinha é algo chato, constrangedor. Certamente a grande maioria deve comentar coisas do tipo "pão-duro! O que custa uma moeda?". Ou seja, o errado é quem não contribui. Eu sou contra. Nego na cara grande. Faria o contrário com grande prazer se essas caixinhas tivessem outra causa, como comprar brinquedos pra crianças de abrigos ou dar um frango assado pra uma ceia de família pobre. Mas somos (todos) egoístas demais pra isso. Bom seria se a gente juntasse as moedinhas dessas caixinhas e fazer o fim de ano de uma criança mais feliz. Isso sim faz sentido.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

PRA QUE FUI VER O PAPA?

Essa semana, vi no Facebook uma foto de um rapaz que exibia um cartaz: "Papa Francisco, sou evangélico mas eu te amo. Ore por mim."

Sinceramente não entendo o ecumenismo. E a palavra excedeu o âmbito cristão e se estendeu pela compatibilidade de toda e qualquer religião. Sequer o sincretismo religioso entra na minha cabeça, que dirá essa compatibilidade entre religiões. Isso não existe. Se existe, é por pura falta de raciocínio. A tal tolerância religiosa deve ser por parte do Estado e ficar no campo do respeito entre um ser humano e outro. Eu respeito a sua crença, você respeita a minha. Há os ateus, portanto, há que se respeitar, também, a  falta da crença em um deus.

Se analisarmos friamente, chega a ser hipócrita a velha frase "Deus é um só, não importa como Ele é chamado". Sejamos sinceros, pois ninguém pensa assim de verdade. Como dizer que a minha religião não diz que as outras são erradas se eu não concordo com o que elas dizem? E como ser louco de achar que a minha religião não é verdadeira se minhas atitudes apontam para as convicções que elas direcionam? Se eu não acredito em diabo e em Jesus como Deus, como vou dizer que não critico a sua fé por isso? Como não vou dizer que você está errado por isso? E se eu estou convicto que não existe meio termo entre céu e inferno, como vou abraçar um católico e dizer "ah, você está certo em acreditar no purgatório"?

Claro que existem compatibilidades, mas isso não tem a ver com as religiões e sim com os padrões morais já permeados em nossas vidas. "Ah, mas lá eu me sinto bem". "Ah, mas lá eu sinto paz". "Lá ensinam a ser bom e tolerante, fazer o bem.". Quase todas as religiões vão ensinar coisas assim mas isso não quer dizer que seus preceitos sejam compatíveis. Na verdade, pra agir bem não é necessário nem religião. Um ateu pode ser muito mais humano e amoroso que alguém que se declare cristão, espírita ou budista. O absurdo do ecumenismo não tem a ver com as relações humanas e sim com Deus, rituais, restrições e obrigações.

Nesse caso, não entendo porque o carinha lá foi ver o Papa e muito menos o motivo do cartaz. Como eu peço a alguém que ore baseado numa fé que eu não acredito? Religião é convicção e não permite esse tipo de tolerância. Simples assim!

domingo, 16 de junho de 2013

CEDO DEMAIS?

Já estão namorando? Já moram juntos? Casar? Não é cedo?

Não entendo esse tipo de pergunta quando se trata de um relacionamento. A gente entra em empresa e, desde o primeiro dia, temos que estar comprometidos 100%. Você tem que entrar disposto a fazer o melhor em tudo. Um jogador é contratado por um clube e, desde os treinos, já dá o máximo de si por entender que, uma vez o  compromisso assumido, tudo que se deve querer é ser o melhor.

Quando duas pessoas iniciam uma relação, isso pode acontecer de mil maneiras. Não cabe a ninguém julgar. Eu acredito que o melhor caminho é da sinceridade desde o primeiro momento. O que se sente no começo, só o próprio casal pode dizer e esse será o combustível para os dias seguintes. Mas não entendo o medo de um futuro juntos ou porque isso é tão questionado pelas pessoas que cercam nossa vida. Se aquilo vivido naquele momento é tão bom, por que não desejar aquilo pro resto da vida? Por que é cedo pra se falar em um futuro juntos?

Penso que, da mesma maneira que nos comprometemos com todas as outras coisas da vida, assim devem ser as relações. A partir do momento que dizemos "temos um compromisso", isso é suficiente pra que se faça de tudo pra que as coisas aconteçam. Nada mais sensato e lógico que entender o que é o compromisso tendo atitudes para que tudo dê certo e por que não fazer isso desde o começo? Então, por que é cedo? Por que o futuro é tão assustador? Por que se fixar tanto na ideia de "e se der errado" em vez da "tem tudo pra dar certo"? Por que o futuro é esse tabu que necessariamente tem que ser tratado com tanta cautela? Qual a diferença se der errado no começo ou cinco anos depois? Qual a regra? Que certezas temos no futuro? Sequer temos a certeza do dia seguinte então, vamos nos entregar de verdade desde o primeiro dia. É mais lógico dar certo fazendo as cosias dessa forma. Não se trata de pensar positivo, mas de se ter atitudes. É isso que faz dar certo sempre.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

COMO É QUE SE DIZ "EU TE AMO"?

"Vai com calma!" "Não se entrega assim tão rápido!" "Cuidado pra não se decepcionar!" Quantas recomendações dessas recebemos quando estamos entrando ou pra entrar em uma relação. Esse tipo de recomendação não é dada quando falamos de trabalho, família e estudo. Ninguém diz pra irmos com calma nesses sentidos. Parece até que corremos o risco de decepção só no amor. Sem dedicação, não há como ser o melhor no emprego, com os familiares e nos estudos. Mas os conselhos sempre são direcionados assim quando falamos no amor. Por que? Não sei.

Muitos tabus existem quando falamos em relacionamentos. Diferenças de idade, por exemplo, como se isso determinasse maturidade e compatibilidade. Classe social, distância, sexo. Existem tantas coisas que o senso comum determina e se alguém perguntar o por que, a resposta certamente será no melhor estilo "O Auto da Compadecida": "Não sei, só sei que foi assim..."

Talvez o maior deles seja a hora de dizer "eu te amo". Todos cheios de dedos pra dizer, como se fosse uma frase mágica, uma coisa que deve ser atingida num lugar mítico, algo que tenha se trilhar um árduo caminho até lá. Mas por que tanto cuidado? Pra que pisar em ovos pra dizer que ama? O que é amar? Amar não é um ápice, mas sim algo que construímos durante a relação. Amar é querer estar junto, é se preocupar se o outro melhorou da gripe, é ajudar nos estudos, é mandar uma mensagem de bom dia, é torcer pro sucesso profissional do outro, é mandar sms pra saber se o outro chegou bem, é preparar um bom almoço, é levar para um piquenique, é dar carinho quando se precisa. Esse tipo de coisa não precisa de tempo pra acontecer. Em tudo isso o amor está presente e pode começar desde o primeiro dia. As diversas formas de amor vão se acumulando, construindo uma sólida base. O amor se mostra quando são amantes, companheiros, colegas, amigos. O amor se mostra no cuidado diário, nas preocupações do cotidiano, nos incentivos, na admiração, no choro no ombro, num passeio à beira do mar, nas coisas simples, nas complicações...

Dizer "eu te amo" não é algo a ser evitado. Ao contrário, pode se tornar combustível para que o mesmo cresça, pode encorajar o outro a dizer o mesmo. E o principal: amar faz bem. Amar e ser amado, mais ainda. Portanto, sem freios quando esse sentimento nobre está sendo cultivado.

"E hoje em dia, como é que se diz 'eu te amo'?"

domingo, 14 de abril de 2013

NÃO FEZ MAIS QUE OBRIGAÇÃO?

Na infância, isso é clássico. A gente estuda, tira uma nota alta e alguém, pai ou mãe, fala pra gente: não fez mais que sua obrigação.

Andei pensando nessa frase esses dias e no quanto isso é redundantemente ridículo. Já ouvi alguém dizer que uma pessoa que nunca se atrasou no trabalho por anos e anos não fez mais que sua obrigação, não fez mais que o mínimo que se esperava dele. Esse tipo de afirmação é utópica, é rude demais, completamente fora da realidade, pelo menos no que diz respeito ao ser humano.

Pensava nisso enquanto ia para um exame médico de retorno ao trabalho. Meu compromisso: chegar ao consultório as 11 horas. O tempo médio que eu levaria até lá, pelo horário, seria por volta de uma hora e vinte. Saí de casa com duas horas e meia de antecedência e cheguei um pouco depois das 11 horas, depois de ficar quase uma hora engarrafado. Era um compromisso avulso em que o horário nem era tão importante assim. Mas situações como essa se repetem todos os dias. Eu, por exemplo, sempre preferi chegar uma hora antes do que um minuto atrasado. Mas quantas vezes, mesmo tentando me antecipar tanto, fui surpreendido por um engarrafamento monstro as cinco da manhã? E aí, um trajeto que levaria meia hora passa a levar duas.

O mundo não é perfeito e isso não é novidade. Mas as pessoas te cobram as coisas como se ele fosse. Como se não houvesse imprevistos, como se a cabeça da gente funcionasse sempre bem, como se tristezas e aborrecimentos não interferissem na nossa rotina, como se doenças, mesmo as mais simples, não atrapalhassem nosso rendimento. Os carros batem e provocam longos engarrafamentos, os ônibus enguiçam, os sistemas dos bancos caem, falta luz na hora de passar a roupa, o pneu fura, o filho chora inesperadamente na hora de sair. São incontáveis os imprevistos que nos impedem de cumprirmos nossas obrigações, sem contar as coincidências, que fazem com que coisas assim aconteçam mais de uma vez na semana, por exemplo.

Não acho justo isso de "não fez mais que sua obrigação". Temos que matar um leão por dia, como se diz, driblar tantas coisas pra alcançar esse mínimo que é mérito, sim, quando o cumprimos. Cumprir a obrigação tem sido difícil em muitos aspectos. Podemos atribuir como obrigação um pai dar um presente a um filho. Mas quais os anseios de uma criança? Que tipo de esforço deve-se cumprir pra se agradar a um filho? Situações que nos exigem superações podem até não nos elevar acima das obrigações, mas pra cumprir esse tal básico já nos exige algo mais, ou seja, a gente vai além da obrigação pra cumprir outras obrigações. Um esforço não visível que estamos acostumados a não receber reconhecimento.

terça-feira, 9 de abril de 2013

ARRISCAR?

Se tem algo em mim que não se confunde é o coração. Não me lembro de ficar indeciso quanto a isso. Amei, desejei, me apaixonei sempre com toda certeza do mundo. Pior de tudo é que esse coração está  sempre aberto para trabalhar intensamente. Pior, digo, porque as consequências, quando não dá certo, são terríveis. Eu que o diga. Mas esse velho coração cansado andou dando lugar ao cérebro. Felizmente? Sei lá...

Recentemente, conheci uma mulher interessante e nada genérica. Embora talvez as as afinidades não signifiquem muita coisa, essa tinha tudo pra dar certo. Mesmos gostos, mesmas vontades, mesmos anseios de vida e até o mesmo tipo de chocolate preferido. Instintivamente, meu coração deveria seguir esse rumo e sabe-se lá em que pé estaríamos hoje. Mas a razão, que havia acabado de trabalhar nesse coração meio casado, resolveu atuar e pedir trégua e atentar para os riscos do envolvimento. Logo eu, que nunca liguei pra isso, menos ainda para o fato de estar saindo de uma relação e mergulhar em outra. Então, por que, diabos, eu não arrisquei? Se eu não me apego aos critérios estabelecidos pelo senso comum, como o "vai com calma, você acabou de sair de um relacionamento...", por que não dei vazão ao sentimento?

Dizem os praticantes de esportes radicais que o medo é que traz a segurança. Acho que, depois de tantos anos, tive medo, um medo que protege. E eu estou bem assim? Não. Eu posso estar protegido por esse medo, mas nada contente com essa situação. Embora eu realmente esteja ciente que preciso refrescar mente e coração, admito não estar gostando nada disso. Resumindo, eu não nasci pra ficar sozinho.

O senso comum diz pra eu ir com calma. Sei lá se as pessoas realmente seguem isso, mas elas dizem sempre a mesma coisa. Que é preciso dar um tempo, que é bom ficar sozinho um período, que é pra se pensar no que se quer, que isso, que aquilo. Bem, eu continuo querendo o que sempre quis: uma companheira. O caso é que todo mundo me enxerga jovem. Para o mundo atual, um cara de 37 anos ainda tem muito pela frente, ou pior, está só começando, diferente do meu pai que, com a minha idade já era pai de seis, inclusive eu havia acabado de chegar ao mundo. Proles à parte, eu não me vejo jovem assim como a modernidade vê. Eu me pergunto se posso manter os mesmos critérios que tinha há alguns anos. 

Parece pouca a minha idade? Alguém me perguntou se quero ter filhos? E se isso parece simples, pense em eu estabelecendo uma relação com uma mulher com idade "compatível" com a minha (acima dos 30, segundo muitos gostam de estabelecer). Essa mulher já realizou seu sonho  na maioria dos casos. Com menos, até. As mais novas se acham jovens demais pra isso, pra idealizar o sonho do filho. Antes de tudo, todas querem se formar, se especializar... Trata-se de eu cair numa época meio ruim. As mais velhas já têm o que queriam, as mais novas buscam outras coisas. E nisso, fica difícil encontrar alguém que sonhe o mesmo sonho. Pelo menos esse sonho.

Não parece mais tão simples encontrar alguém. Não estou mais podendo arriscar, mas também já não estou podendo tanto escolher. E ainda preciso pensar em cada possibilidade o que o resto do mundo pensará a respeito. É lindo ouvir dos amigos que o importante é ser feliz, que o que interessa é encontrar alguém, que não importa o que dizem os outros. Lindo mesmo, mas se o cara aqui encontra uma de 18 anos apaixonada os olhos se arregalam. A palavra "INCOMPATIBILIDADE" fica estampada na testa das pessoas, como se esperassem o momento certo da relação terminar pra despejar seus critérios cheios de razão e dizer: não tinha mesmo como dar certo, ela era muito nova. Ou, quem sabe, como aconteceu comigo, quando tive alguém que morava longe. Era tudo lindo até acabar. Amigos davam a maior força mas quando terminou a primeira coisa que disseram era porque não tinha como dar certo por ser longe. Então, é muito bonitinho isso de que quem estabelece as coisas somos nós, mas vai enfrentar o povo. Vai enfrentar a família, cheia de critérios olhar torto pra sua namorada porque acham que ela não é mulher pra você.

Não, eu não estou satisfeito com a situação. Também não sei se tenho feito bem de usar a razão. Não sei se isso me protege ou se me prende ao ponto de me fazer sofrer com isso. O coração está livre depois de muito tempo. Talvez a diferença seja que ele não caminhe mais em direção a outro e está simplesmente esperando que algum outro vá até ele. Espero que a razão me sustente até lá. Ela me mostrou que vale a pena usá-la, embora ela faça sofrer quase tanto quanto a emoção, mas sofre-se por um período bem menor. 

Bem, vamos respirar um pouco e ver o que o teremos nos próximos dias.






segunda-feira, 1 de abril de 2013

UM LEMBRETE SOBRE A RETOCOLITE

Enquanto mais uma crise de retocolite me consome, me irrita, acaba com meu humor, me faz ter reações anormais, como gritar com a tomada que saiu do lugar, lembro aos meus amigos algumas coisas para que não percam seu tempo dizendo bobagens:

1. Antes de tudo, lembro que eu NÃO (poderia escrever aqui em vários idiomas mas, enfim...) tenho restrição alimentar? É tão difícil assim acreditar que TODOS os médicos pelos quais passei, inclusive um deles considerado o "Papa" da doença inflamatória intestinal, me disseram isso. Então, não tentem tirar de mim o presunto, a linguiça, o hambúrguer, o cachorro quente, a pizza, o sal, o açúcar, o leite, o queijo, a lasanha, os doces de padaria, as comidas japonesas, o vatapá, o baião de dois com carne de sol, a feijoada, o churrasco, a carne de porco, de cordeiro, de urubu, de rato de laboratório e do que mais existir de comida da face da terra. Eu vou comer e pronto. A não ser que a comida não caia bem, o que pode acontecer com qualquer um, eu vou ter uma  diarreia e só. Cerveja também. Não tenho NENHUMA reação quando bebo, e quando digo NENHUMA, é NUNCA. 

2. Parem de recomendar sucos, chás e frutas. Meu intestino funciona assim: da mesma forma comendo goiaba ou mamão, banana ou abacate. O chá de broto-de-goiaba nunca funcionou nem pra diarreia, que dirá pra uma disenteria séria numa crise. Suco é bom pra hidratar e nutrir e só. E por favor, estamos falando de uma doença crônica estudada há anos. Não vai ser um suco que vai resolver o meu problema.

3. Parem de dizer que eu preciso me internar. Não são vocês que não têm veias pra acesso e tem ser picado duas, três, cinco vezes até finalmente acharem um lugar  pra colocar soro e medicação. Eu fico sem comer, porque da comida de lá já rejeito. NÃO percam seu tempo dizendo que eu preciso me esforçar pra comer porque eu NÃO vou fazer isso. E parem de dizer que é pro meu bem, que é o melhor. São 10 internações e em TODAS elas eu fui melhorar depois, em casa. Eu não durmo porque preciso mijar a cada 20 minutos por conta do soro, fora quando entra a enfermeira, a faxineira, a camareira, a copeira e não tem uma maldita vez que apagam a luz. E lembrando que só preso ao soro eu preciso me levantar mais de 70 vezes, fora banho, escovar dente, as idas de número 2, apagar a luz que deixaram acesa...

4. Cuidado com as piadinhas. Não é engraçado ter essa doença por 15 anos. Além do sofrimento, tem os efeitos do remédio, muito severos. É sério. O próximo que debochar do meu rosto inchado eu vou dizer que é por causa do tratamento pra câncer, que parece que é a única doença da qual as pessoas não riem.

5. E por último: meu humor está péssimo e isso é aceitável depois de estar doente desde o Natal. Por isso eu me afasto, principalmente daqueles que sequer sentem minha falta e quando volto do hospital aparecem do nada perguntando como eu estou. 

JOGO DOS ERROS

Ajudem-me a perceber coisas que não percebo ou algumas que percebo e são prejudiciais ao meu relacionamento com os amigos. Vale qualquer coisa. Podem ser diretos, dizer que sou egoísta, ou que encho demais o saco pelo chato do Face, ou que faço isso de menos. Preciso da ajuda de amigos, colegas ou simplesmente que não me conhece bem e não vai com a minha cara. Deixem seus comentários. É anônimo, sem nenhum constrangimento. Espero vocês.

segunda-feira, 25 de março de 2013

(CONTRA) SENSO COMUM

Se fosse regra, o mundo seria um caos... mas tem dia que dá vontade de apertar o botãozinho do "foda-se". Isso mesmo, este blogueiro aqui, que não usa palavras assim em seu planeta, está naqueles dias de pensar "por que tem que ser assim?"

Umas das expressões que mais ouvi nos últimos anos por conta de um colega de trabalho foi "senso comum". Ele está aí pra salvar a sociedade da completa treva, afinal, se cada um fizesse o que dá na telha, nem haveria mais sociedade. Ou será que sim?

Mas que ironia. O ser vivo pensante com a mente aprisionada. Ouve os argumentos de todo o mundo e, com o privilégio de poder decidir sobre o que fazer, não o faz. O cara de 40 anos não pode namorar a menina de 17, afinal... afinal o que? Uma mulher não pode largar seu mundo e mudar de cidade buscando ser feliz com um cara de um lugar um tanto distante, afinal... mas hein? Você deveria estudar em vez de ser músico... mas... qual o problema em ser músico? E quem disse que não exige seu estudo? Não tome refrigerantes, pratique esportes, pegue uma cor na praia, perca essa barriga, não use tatuagens, brinco é coisa de viado, seu cabelo não causa uma boa aparência.

Quais limites devemos respeitar pra agirmos como queremos? Que barreiras romper? Infelizmente, o mundo é implacável e se você usar um cabelo azul com um belo alargador de orelha, vão te olhar de cima a baixo. E nem dá pra culpar o resto do mundo, não. Eu mesmo, as roupas que uso (e não são nada exóticas, só procuro andar na moda) meus brincos, meu cabelo sempre com gel... as pessoas dos ambientes que frequento têm sempre uma piadinha que me faz apertar o botãozinho que citei antes. Eu fico me perguntando até quando podemos desrespeitar esse senso comum. Sim, porque não dá pra ficar deixando pra lá o que o resto do mundo pensa, afinal, eu agarraria todas as mulheres que me interessariam e pronto. Isso feriria o direito das mulheres, fora que eu poderia sofrer o mesmo assédio e certamente não gostaria nem um pouco disso na maioria das vezes.

Viver nesse limite pode ser tão complicado... A gente teria que achar um ponto de equilíbrio entre o respeito ao próximo e o fato de não termos prejuízos. Pois é, porque ainda se fala que uma tattoo causa má impressão em uma entrevista de emprego, quando isso é só tinta. Um mundo se olhos se forma em volta de um casal com 20 anos de diferença quando o que menos importa para a felicidade a dois são os outros 998. Mas somos assim. Gostamos de interferir na pessoalidade das pessoas. Mas é aquilo, aperamos o botão mas devemos estar prontos para o ônus. É bom marcar a pele com algo que julgamos legal e que não vamos nos arrepender nunca. É bom sermos felizes com a menina de 17. É bom usarmos roupas exóticas e seus acessórios. Mas o chato disso é que tem um monte de gente dizendo que isso é errado, absurdo e esquisito. 

Nesse mundo tão intolerante, temos que dissolver nossa personalidade nesse senso comum que nos regula. Sinceramente, tem hora que cansa, que irrita, que revolta. E sabe o que é pior? Na maioria das vezes as pessoas sequer sabem porque algo é errado ou não. Se a gente pergunta por que não devemos fazer isso ou aquilo, dizem: "porque não é legal." ou "porque não fica bem" ou "as pessoas vão falar". É engraçado você ser obrigado a respeitar a sociedade e essa mesma não ter a mesma obrigação. E é irritante como isso se dá com uma total falta de argumentos.

Sem argumentos plausíveis não tem conversa. Esse paradigma que diz que as coisas sempre foram assim  não me convence. Obviamente não vou sair por aí bicando a cara da sociedade, mas estou um pouco mais propenso a ligar menos pro que os outros falam porque isso tem regulado a minha felicidade e, entre o resto do mundo e eu, fico comigo mesmo.














segunda-feira, 18 de março de 2013

AMANDO SEM DIFERENÇA

"E fiquei tanto tempo duvidando de mim
Por fazer amor fazer sentido"

Sinceramente, nos meus 37 anos de vida já tanta história de amor dar certo. Não as "convencionais". Tô falando daquelas que todo mundo aponta com absurdas. Já vi casal com mais de 30 anos de casados que, quando começaram, ele tinha 19 e ela, 12. Já vi outro casal na mesma condição atual desse anterior que começaram com 12 e 13 anos. Já vi um cara morando nos EUA conhecer uma mulher do Ceará pela internet e os dois estão há mais de 10 anos casados.

"Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer que não existe razão?"

Diferenças de idade, de cor, de classe social. Pelo menos nisso as novelas não erram. Quando rola o sentimento, não tem isso. Nem idade, nem distância, nem diferenças. Tem mulheres novas que gostam de caras mais velhos, bem mais velhos. Tem quem diga que namorar estraga a amizade. Que nada. Melhores amigos namoram depois anos.

Regras. Dizem que foram feitas pra serem quebradas. Nesse caso, elas sequer existem. Engraçado, né? Essa sociedade é louca. A mesma que acha que não deve haver impedimento quanto a alguém gostar de alguém do mesmo sexo é a mesma que impõe o senso comum de que não se deve ser assim ou assado em uma relação hétero.

Vai entender...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

MUDANÇAS DE VIDA, NÃO DE PERSONALIDADE

Uma vez me disseram que eu teria que resolver minha separação judicialmente. Fui, resolvi e continuei sendo o mesmo. Uma vez, disseram que eu ficaria legal se frequentasse a academia. Tentei seis vezes, algum resultado apareceu e continuei sendo o mesmo. Por um tempo, fiz corridas e caminhadas e continuei sendo o mesmo. Diziam que eu era inteligente e que tinha capacidade para passar em um concurso público. Estudei, fiz e passei. Hoje, sou funcionário federal e continuo o mesmo. Fui casado com uma mulher que mudou minha visão de como me vestir, ajeitar o cabelo e ter estilo. Mudo de estilo conforme a moda e continuo sendo o mesmo. Resolvi cuidar da minha saúde e um pouco mais da aparência e continuo sendo o mesmo.

Pra tudo isso, recebi apoio e aceitei cobrança de amigos e familiares. Nunca me ofendi com isso. Nunca achei que essas mudanças fariam de mim outro Cris. Não perdi personalidade, não fingi ser quem eu não sou em nenhum instante. Em essência, sempre fui o Cris. No máximo, agreguei valores a minha vida. As cobranças e incentivos me fizeram perder medos e acreditar um pouco mais em mim. E se eu fiz muitas dessas coisas, foi consciente que era para o meu bem.

Realmente, não entendo o que é perder a naturalidade quando mudanças boas assim acontecem com a gente. E o que as pessoas que amam de verdade a gente querem é o nosso bem. Não sei qual o medo de evoluir. Acho que se alguém não se propõe a boas mudanças e não aceita conselhos e incentivos a pretexto de que são cobranças demais e que não querem deixar de ser como são, fazem disso muleta para o seu próprio comodismo.

Eu? Quero mais é ouvir dos meus amigos o que eu não gostaria de ouvir. Incentivar meus próprios anseios seria fácil demais. Falar pra mim o que eu gostaria de fazer é mole. Quero ver é aconselhar olhando nos meus olhos e me apresentando os defeitos que atrapalham a minha vida. Pode ser que eu fique chateado na hora ou por um tempo, mas aquilo vai refletir em mim em algum instante e vai me fazer despertar, mesmo que pra isso eu tenha que aprender com a vida, real e cruel.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

MUDANÇAS, CONSEQUÊNCIAS, PREÇO E SATISFAÇÃO

Duas coisas eu sei sobre os meus defeitos. A primeira é que são muitos e a segunda é que eles despertam diferentes reações em cada pessoa. Até existe uma terceira verdade: alguns deles nunca vão mudar.

Não vejo nenhum demérito em mudar. Até porque algumas mudanças, claro, digo pra melhor, vão trazer benefícios pra nós mesmos. Eu tive um amigo que achava o cúmulo mudar, que isso era falta de personalidade, que a gente tinha que ser a gente mesmo. Sinceramente, nunca entendi isso. A gente está sujeito a mudanças durante a vida toda. A gente entra empolgado num primeiro emprego, sai, entra em outro e de empresa em empresa vai vendo que as coisas não são um mar de rosas e passa a ser mais cuidadoso na hora de lidar com colegas de trabalho, chefes... Então, mudamos. Mas deixamos de ser nós mesmos?

Mas mudar exige esforço e um esforço todo nosso. O mundo não vai mudar por você. As pessoas não vão agir diferente pra eu ter mais paciência. Eu é que vou precisar relevar um pouco mais as coisas. e pessoas. Claro que não seremos "Lara e Diana", acumulando características avessas, mas absorver e perder faz parte.

Cada um sabe o meio que vive, sabe a relação que está com seu amor, com sua família e deve avaliar se as mudanças valem a pena por si e pelos outros. Se alguém não quer mudar é sinal que está satisfeito consigo mesmo e com as reações das pessoas a sua volta. No final, importa se o resultado vale a pena, se a vida que isso vai te propor é boa, é ideal. Se é, ótimo, sigamos nosso caminho. Se não, o esforço da mudança é algo a se pensar.

Eu tenho minha personalidade definida e certamente, a essa altura da vida, muita coisa não vai mudar. Mas até hoje eu aprendo lições e vou me moldando para as próximas experiências. Garanto que para que eu me torne melhor, mudarei. Se for para o meu benefício, também. E, mudando por mim, atinjo as pessoas que estão comigo. Eu mudo, sim. Só não quero perder coisas e pessoas por puro orgulho.

Acho engraçado que numa relação a dois a pessoa não quer mudar. Nesse caso, eu acho que é porque não vale a pena pela outra pessoa. Porque na maioria das vezes a relação acaba e tudo que essa mesma pessoa faz é promover as mesmas mudanças que poderia ter feito antes. Quem nunca reparou alguém sair de uma relação e passar a se arrumar, correr atrás de uma vida melhor nos estudos, no trabalho, correr atrás disso e da daquilo? Se era assim, porque não o fez antes? Na minha cabeça é porque realmente não valia a pena mudar por aquela pessoa. E se o fim chega nesses casos, nenhum dos dois perdeu.

Pra tudo existe um preço a se pagar. Às vezes, é o fim da relação, em outras custa o seu emprego ou uma relação instável entre você e sua família ou um melhor amigo passa a nem existir mais pra você. O que acho que devemos pensar é no resultado das mudanças e da falta delas. O preço do arrependimento é grande. Tem gente que não aprende com as escolhas erradas da vida e repete os mesmos erros. Eu prefiro fazer do meu presente uma referência pro futuro. O meu presente é resultado do meu passado, das escolhas que fiz lá atrás. Tenho menos do que deveria ter porque não mudei coisas a tempo. Perdi muito e hoje, no presente, não quero ser orgulhoso pra dizer que não vou mudar pra quando chegar o futuro eu ter que me arrepender mais do que já me arrependo hoje.

Tudo tem um preço, tudo tem consequência e resultado. Mas existe algo que se chama satisfação. Se alguém trabalha pra beber todos os dias e acha isso satisfatório, ótimo. Eu acho medíocre, mas se a pessoa escolheu, fazer o que? Se alguém pensa que poder sair pra onde quiser é ter liberdade, bom! Se a leveza está em curtir a vida sem ter que dar satisfação às pessoas, que legal! Se as pessoas trabalham pra ficar em casa trancados no fim de semana com os filhos mesmo tendo carro e boas condições, ótimo! Se a satisfação está presente, não existem realmente argumentos pra que se mude mesmo. Eu posso falar por mim. Quero mais pra mim e se isso exigir algumas mudanças, mudarei. Se isso exigir esforço, vamos lá, na medida do possível. O que eu não posso é perder oportunidades por coisas que realmente valem a pena.
























segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

AS RELIGIÕES NÃO SE ATUALIZAM... E ESTÃO CERTAS!

BLINDADAS!
Sinceramente, não sei porque existe tanta polêmica em cima da inflexibilidade da religião. Existe uma insistência de que a religião deve "evoluir", mudar conforme o mundo muda, se adaptar às novas práticas do ser humano. Uma coisa é achar ruim acreditar em religião, achar burrice. Eu acho que existe argumentação pra isso e os ateus o fazem bem. Outra é achar que religião A ou B está errada, acreditar parcialmente naquilo.

Independente do que se possa dizer sobre certos temas que dizem ter várias interpretações, alguns temas são bem definidos, condenáveis ou aceitáveis dentro da religião. Se isso variar conforme a modernidade, aí sim a religião perde o fundamento. O que muda é lei humana e não doutrina teológica. Quem tem que falar de usar camisinha é o Estado porque é dever dele se preocupar com a saúde pública. O Papa não tem que dizer que o jovem tem que usar porque é melhor evitar doenças e gravidez não planejada do que não usar o preservativo. O Papa tem que dizer que sexo é depois do casamento, não importa se para o mundo moderno isso é ultrapassado. Ele tem que se manifestar contra da mesma forma que deve se manifestar contra o assassinato, o adultério e a homossexualidade porque tudo isso é condenável segundo o Cristianismo.

Falei do Papa porque geralmente se associa a intolerância contra essas práticas ao pastor e à Igreja Evangélica. O cerne de uma dessas polêmicas desnecessárias gira em torno do pastor Silas Malafaia, apontado como homofóbico. Que me perdoem os católicos, judeus, muçulmanos e outras religiões que, em seus fundamentos doutrinários, também condenam tais práticas, mas a posição do pastor em questão é corajosa e deveria ser a mesma dos líderes de suas religiões. Ficar em cima do muro é admitir que sua religião se flexibiliza, ou seja, se enfraquece. As religiões têm suas bases doutrinárias em seus livros sagrados. Se alguém quer saber se andar nu pelas ruas é condenável no Brasil, consulte a Constituição Brasileira. Se você quer saber se o divórcio é lícito pros cristãos, consulte a Bíblia, para os judeus, a Torá e para os muçulmanos, o Alcorão.

Uma das coisas que se confunde muito no que diz respeito às leis religiosas é se alguma prática faz mal ou não àquela pessoas ou às que a cercam. A jugular atual dessa polêmica está em torno da homossexualidade. É preciso entender que, para a religião, algo condenável não está em fazer bem ou mal. É uma determinação crida pelos seus seguidores e criada pelo suas divindades. A condenação da prática homossexual também não tem a ver com seu direito social de exercê-la. Em resumo, um homem pode ser gay, a mulher pode ser lésbica e, socialmente isso não causa mal. Mas é direito de cada um crer nas suas convicções. Lamento aos gays que não concordam com as doutrinas evangélicas contra o homossexualismo mas querem concordar com todo o resto porque isso é incompatível. Hoje existe a Igreja Contemporânea, cujos pastores são gays. Não, eles não são certos porque adaptaram as necessidades atuais de homossexuais se encaixarem na Igreja. Eles estão errados porque se a religião se molda ao resto, então a pedofilia, principal polêmica acusadora contra os padres, corre o risco de ser adotada daqui uns anos. Aqui geramos sempre a polemica do que disse antes: o que é condenável por causar mal ou não. Legislação diz que ser gay é lícito e ser pedófilo, não. Religião não. Para o Cristianismo, as duas práticas são condenáveis e ponto final. Claro que (será?) que a pedofilia não será admitida porque é crime. Mais que isso, sabemos que moralmente é errado, que é covarde e repugnante. Parece um exagero, mas ilustra bem.

Aqui no Brasil, não se pode agenciar mulheres para a prostituição. Na Holanda, isso é legalizado, é profissão. E o que um judeu diria a respeito disso aqui no Brasil? Errado. E lá? Também. Mas a prostituta está prejudicando alguém? Ela está usando o corpo, que é dela, legalmente dela e proporcionando prazer, ganhando seu dinheiro com seu talento. Mas o pastor, o rabino, o papa e o mufti (acho que chamam assim no islã) devem ser veementes: está errado e pronto.

Quando na referida entrevista o pastor cita os pecados condenáveis dizendo que ama o homossexual, o homicida, o idólatra, o adúltero, a entrevistadora logo interveio: "Mas você está colocando homossexual junto com assassino". E voltamos ao ponto do que dizem lei e religião. Digam o que disserem, essas práticas são igualmente condenáveis na bíblia, a dos católicos e na dos evangélicos, na torá e no alcorão. Como minhas raízes filosóficas são cristãs, só posso falar dela. Eu resumiria em poucos tópicos a associação da prática e de como se deve conduzir um cristão com relação a isso.

Primeiro, o homossexualismo é condenado pelo Deus da bíblia. Quem não concorda, lamento, mas deve procurar outra religião que o aceite ou uma igreja que se diga evangélica que aceite tal prática, mas que vá sabendo que essa condenação é explícita na lei que rege o Cristianismo. Isso é ponto pacífico.

Segundo, independente disso, existe a diferença entre ser certo e de como se agir em relação a isso. De novo, sem querer comparar causar mal com algo que não causa dolo, podemos usar o exemplo que o próprio Silas deu. Uma mãe visita o filho numa cadeia, que é um assassino. Ela ama aquele filho 100% e, certamente, não concorda com o que ele pratica, nesse sentido, 100%. Para a religião, um gay e um homicida estão igualmente errados no que diz respeito ao aspecto moral. Moral para a religião não é a mesma do senso comum da humanidade, lamento. Assim como o aspecto moral religioso não está relacionado ao caráter, ou seja, ambos errados moralmente mas o assassino com caráter ruim.

Outra coisa é o que a mesma bíblia diz de forma geral. O segundo maior mandamento é amar ao próximo como a ti mesmo. Outro trecho diz que não devemos fazer acepção de pessoas. Uma mulher estava para ser apedrejada por ser adúltera dizendo aos que a cercavam que atirassem a primeira pedra aqueles que nunca tinham pecado. E disse a ela: ninguém te condenou? Nem eu te condeno. Vá e não peques mais. Então, Jesus não a condenou, a perdoou mas o que disse a ela no fim nos informa que ele não concordava com aquela prática. Não peques mais, ou seja, não cometa essa ERRO de novo. Jesus a tratou com dignidade e amor, mas mostrou que não concordava com aquela prática. Jesus separou o que se deve ser levado em conta sob cada aspecto. Perguntaram a ele se era lícito pagar tributos a César. Ele perguntou: essa cara estampada na moeda aí é de quem? Responderam que era de César. E Ele disse então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Ou seja, você deve ter um comportamento religioso mas vive em uma sociedade que cerca tudo isso. 

Mais um aspecto é que a bíblia diz que devemos respeitar e obedecer às autoridades, mas o crente de verdade deve fazer isso pelo amor que tem a Deus. Ou seja, para o que diz cristão, seria desnecessário dizer que a lei proíbe a discriminação, já que isso é explícito nas leis cristãs. 

Infelizmente, não tenho como falar sobre as outras religiões e nem vou pesquisar a respeito. Penso apenas que a religião deve ser blindada, contra toda mutabilidade. Se é pra se moldar de acordo com o tempo, que se dissolva porque ela perde o sentido. Acho que poder variar segundo algumas culturas, mas isso jamais deve envolver os aspectos morais. Vestir-se com decência pode ser um costume no sul do Brasil e outro no norte da Angola. Vejo igrejas que se deve usar terno e gravata. Eu não concordo porque acredito nisso como uma importação desnecessária de uma cultura de países de temperaturas mais amenas. Mas é aquilo: não concordo, então jamais farei partes de comunidades cristãs que são regidas por essa disciplina. Já fui a igreja onde se podia usar bermuda. Dentro daquela comunidade, aquilo era comum e decente. E, pensando bem, no máximo que podemos achar de um terno no calor ou de uma bermuda num templo é se é adequado ao ambiente ou não, porque um terno não deixa ninguém indecente e se a bermuda assim o é, então ela deve ser em qualquer lugar.

Meu comportamento com relação aos amigos que tenho independe se eu concordo ou não com suas escolhas. Eu não escolho as pessoas que convivo por opção sexual, cor, idade, gosto musical religião ou qualquer outro aspecto nesse sentido. Socialmente falando, estou unicamente preocupado com o caráter de cada um e se aquilo vai me atingir. Se a convivência é necessária, busco me defender do tipo. O cristianismo me ensinou a ter a base moral que tenho hoje. Segundo minhas convicções religiosas sou contra o homossexualismo assim como segundo minhas convicções musicais odeie pagode, mas convivo normalmente com gays e pagodeiros. Aliás, minha namorada é pagodeira, tenho amigos assim. Gosto não discute, opção sexual também não. Fiz amigos gays e não me envergonho de estar perto deles por isso. Pensar em "ele é homo mas eu gosto ele assim mesmo". Gostar de alguém que é homossexual não deve estar num contexto do "apesar de" porque essa distinção não é social, e sim religiosa. Da mesma forma, a gente convive com gente de outras religiões e não fica pensando em "ah, o cara é "macumbeiro" e eu convivo com ele normalmente." (nota> eu sei que macumbeiro não é o mesmo que umbandista).

A única coisa que deve ficar clara é que as escolhas de cada um não devem ser impostas às religiões. Não tente impor seus costumes e práticas a uma comunidade religiosa, até porque isso seria a contramão disso, ou seja, não aceitar que a religião o condene mas condenar a religião pelo mesmo motivo. Se um casal de homens quer se casar na igreja pra realizar um sonho, lamento, devem procurar um cartório, porque na igreja não vai rolar. Não se sintam ofendidos por não poderem fazer parte da membresia de uma religião que não aceita tal prática. É só procurar uma religião que os aceite e na qual se sintam bem. Eu não posso entrar num templo budista falando alto e nem uma mulher pertencer ao islã sem usar a burca. Se o cara não quer usar aquele gorrinho de judeu, que procure outro lugar pra servir a Deus porque lá é assim. Se a pessoa não quer dar dízimo, não seja crente porque na igreja evangélica o dízimo é sagrado e ponto. Ah, mas é absurdo, ah, mas pastor rouba... Cara, isso não é contigo. Isso é problema do pastor que rouba e vai ser cobrado segundo Deus e segundo a bíblia, é problema de quem dá o dinheiro. No umbandismo as pessoas raspam cabeça, tomam banho de sangue, têm que ficar sem tomar banho. Aí, eu resolvo frequentar e fazer cabeça mas imponho: sem nada disso. Eu posso? Claro que não! Mas se eu fosse gay, poderia ser? Poderia porque lá isso é permitido e não é condenável. É ponto pacífico, pronto.

Então, acho que se gira muita polêmica nisso. Ah, que o Silas Malafaia é homofóbico! Que nada! Ele tá defendendo a religião dele e seus costumes. Ele é um pastor e, independente se acham o cara arrogante ou não, se ele enriquece à base do dinheiro dos crentes ou não, isso é problema dele, de quem o sustenta e, se for algo ilícito, o Estado e próprio Deus no qual ele acredita o julgarão. Ele não é político. O Jair Bolsonaro sim, se mostra homofóbico porque ele não tem que interferir se alguém quer ser homossexual ou não. Ele representa o poder público e o povo. Ele sim, deveria ter uma posição neutra. Aliás, ele e qualquer líder religioso que se proponha a ser governante deve deixar de lado as convicções religiosas e governar para o melhor do povo, no que for relevante para tal.

sábado, 26 de janeiro de 2013

A RETOCOLITE E EU


Nascido e criado em igreja evangélica, me afastei dos cultos nos meados a adolescência, aos 16 anos. Isso foi em 1992. Passei  sair, beber e me divertir pela noite, nos churrascos, reuniões de amigos. Em 1997, resolvi voltar pra Igreja. O que isso tem a ver com a minha doença? Nada, mas será cenário pra uma das circunstâncias que vivo hoje.
No ano seguinte, comecei a sentir dores intestinais muito fortes, sangramento por dias e dias. Os que me cercavam, todos se achando um pouco médicos, davam suas opiniões e diagnosticavam o que eu tinha. Sugestões para tratamento? Até uma mistura de água, açúcar, suco de limão e vinagre me deram. Até que procurei o médico. Eu não tinha plano de saúde. O primeiro “diagnóstico” foi giardíase. Destaca-se entre aspas a palavra porque o médico simplesmente olhou pra minha cara e receitou o remédio. Dias depois, nada resolveu e procurei um hospital público, o Rocha Faria. Relatei o quadro e o médico simplesmente emitiu uma receita para o mesmo problema: giárdia. Isso, sem nenhum exame, nem mesmo o clínico. Tomei remédio por mais uns dias, mas não pude deixar de procurar outra coisa. Até que um tio meu tinha algum conhecido no Hospital da Lagoa. Com muita insistência, consegui ser atendido, fazer exames, e ser internado. Alguém que sangra por dias e dias não pode mesmo estar bem. Fiquei internado por 11 dias lá. Nesse tempo, ficava desesperado porque ia ao banheiro muitas vezes por dia, sempre com muita dor e sangramento. Ali, fiz meu primeiro exame traumático: a retossigmoidoscopia, que consiste em insistir um tubo de metal em lugar nada confortável e em posição altamente constrangedora. Nesse dia, não entendi como é que existe o tal passivo... Sem conhecer ainda direito as consequências da doença no meu corpo, resolvi subir seis andares do hospital de escada. Achei que fosse morrer no leito do hospital, pois me faltava ar e as pernas pareciam que tinham sumido.
Precisei fazer outro exame depois que saí de lá: a colonoscopia. Fiz no Miguel Couto, pois na Lagoa não havia aparelho. Eu não me lembro de nada, mas meus acompanhantes disseram que eu gritava desesperadamente como se fosse morrer. Eu estava dopado. O exame consiste em enfiar uma mangueira no mesmo local constrangedor da retossigmoidoscopia, só que, sob efeitos de remédios, nada senti dessa vez.
Passados os dias e feitos esse um exame laboratorial, veio o diagnóstico de retocolite ulcerativa, nomezinho estranho na época. Naqueles dias, emagreci oito quilos, bastante pra quem pesava apenas 59, ou seja, cheguei aos 51, mais de 20Kg menos do que tenho hoje. Conheci a prednisona, corticoide poderoso no combate à crise de retocolite, mas cruel em alguns efeitos. Nessa primeira vez até que não foram tão severos, pois eu tomava apenas 40mg por dia, ao mesmo tempo que tomava 4g de sulfasalazina. Recuperei-me da crise, voltei lá, mas não fui nada esclarecido sobre o que eu tinha. Os remédios eram caríssimos, pois na época não havia genéricos. Uma caixa de Meticorten durava cinco dias e a de Azulfin, nove. Pra se ter uma ideia, os valores de hoje estão em torno de R$18 e R$68, respectivamente, ou seja, eu gastaria hoje R$326 por mês. Eu entendi que era uma doença de gente rica.
Sem esclarecimentos, com preços assim e passando a dor e o sangramento, tudo que eu mais queria, achei que estava livre da retocolite, achei que tinha cura. Que nada. Cinco anos depois, no meio do trabalho, tive uma crise forte. Era o pesadelo voltando e eu sabia disso a partir daquele momento. Entrei na emergência mas fui liberado. Procurei outro hospital e lá me internaram, ou melhor, chamaram uma ambulância para o hospital do convênio. Fiquei lá por infindáveis 25 dias. Conheci o que era estar com muitos equipos pendurados. Antibióticos, soro, medicação pra dor, pro estômago, pra enjoo... Foram os piores dias até então. Eu deixei quebrar dois termômetros por ter esquecido que estava com eles no banheiro. As dores eram tão fortes que eu via literalmente tudo preto e não desmaiava sabe-se lá por que... Era agoniante sentir tantas dores por tantas vezes e ter que ir ao banheiro em todas as vezes com aquilo tudo pendurado em mim. Pior: a enfermaria era pra três pessoas e imagine na hora que eu precisava usar o banheiro, sempre urgente, tendo alguém lá...  foram exatos 22 dias sem nenhuma melhora, até que, enfim, a medicação começou a fazer efeito. A exemplo da primeira crise, eu fiquei pele e osso, bem pior que da outra vez.
Nessa internação, conheci a dieta constipante, ou seja, isenta de leite e derivados, toda e qualquer gordura e condimentos. Eu aguentei bem os primeiros dias, mas ameacei a nutricionista dizendo que pararia de comer se a tal dieta continuasse, afinal, eu não conseguia mais comer mesmo. Ela flexibilizou e devorei um delicioso prato com arroz, feijão, carne picadinha e vagem. Nem lembro se na época eu comia vagem, mas sei que comi tudo. Saí do hospital e fui buscar ajuda de verdade, tratamento sério pois aquilo quase havia me matado. De verdade! Meses depois, meu amigo e colega de setor disse que o médico da empresa buscou saber informações minhas e disse a ele: você acredita em alguma religião? Pois comece a rezar porque seu amigo não está respondendo aos medicamentos.
Através de uma amiga da igreja, conheci o Dr. Antônio Carlos Moares. Na época, com 17 anos de especialização só em retocolite e doença de Crohn, a prima má da retocolite. Além disso, era diretor médico de um grande laboratório e um dos diretores do Copa D’or. Enfim, alguém em quem eu poderia confiar. Levei a ele os exames todos, contei o histórico. Eu ainda estava saindo da crise. Foi uma longa consulta, de muitos minutos, muita conversa e, principalmente, muito, aliás, todo esclarecimento possível. Entendi a origem da doença, que predominava em raça branca e em descendentes de judeus. É uma doença hereditária, mas não de transmissão direta, ou seja, meus pais não tiveram, nem meus avós. É possível que algum ascendente acima disso tenha tido. Aprendi que a retocolite não tem cura, mas é tratável. As palavras dele foram: “você vai morrer com a retocolite, mas não dela.” E prosseguiu: “Não me lembro de algum paciente que tenha tido complicações ou muito menos morrido por causa da retocolite.” A causa da doença não tinha sido descoberta ainda, mas sabia-se apenas que estava ligada a fatores emocionais, ou seja, a causa era sempre externa.
Tratava-se de um médico conceituado. Passava boa parte do ano no exterior em congressos, ministrando alguns, inclusive. Apesar de todo esse conceito, sempre foi extremamente humano na hora de lidar comigo nas consultas. Era realmente um médico com vocação para tal. Anos depois, descobri, pela TV, que ele havia atestado o óbito da mãe de Roberto Carlos, ou seja, ele continuava com seu sucesso profissional.
Entre tantos esclarecimentos, um que foi a minha grande alegria. Claro que todos os amigos tinham lá suas razões para eu ter aquilo e insistiam em me privar de muitas coisas, sobretudo no que diz respeito à comida. Era meio óbvio, pois o problema era intestinal e algo causaria aquilo ali. O Dr. Antônio Carlos desmitificou a questão alimentar dizendo que, e exceção de condimentos fortes, que eu deveria evitar, e não me privar de vez, eu não tinha nenhuma restrição alimentar. Fez apenas uma ressalva: na crise, eu deveria evitar os derivados de leite por causa da lactose. Não por uma questão de agravamento da doença, mas por conforto, pois a lactose me faria ir mais vezes ao banheiro, portanto, eu sentiria mais dor, mais vezes e por mais tempo. Eu já tinha ouvido isso de outra médica antes de me internar pela segunda vez, mas não dei lá muito crédito. Fui descobrindo que a alimentação restrita acabava por piorar o meu quadro em vez de melhorar, pois como se trata de uma doença ligada ao emocional, a restrição alimentar me deixava mal, pois nada pior que você não poder comer o que gosta.
O Dr. Antônio Carlos me apresentou outra medicação, mais atual e apropriada para a doença: a mesalazina. O que era uma doença de rico passou a ser doença de rico e famoso porque a caixa pra 10 dias custava mais de R$100. Isso há 10 anos... Os genéricos já existiam, mas não para esse medicamento. Comprei por alguns meses, quando começaram as crises financeiras. Depois, consegui receber pelo Governo do Estado, mas vivia em falta. Mais um detalhe: apesar de eu trabalhar, o Dr. Antônio não estava nos conveniados, ou seja, eu desembolsava R$120 na época. Mesmo assim, precisava me tratar e prossegui.
Tempos depois, continuando o tratamento, o doutor fez outro esclarecimento para iniciar uma outra fase no tratamento. A retocolite é uma doença autoimune. Em resumo, o meu organismo não reconhece meu intestino como meu e o ataca. Então, entramos com uma medicação mais atual e apropriada, chamada azatioprina.  Essa medicação é usada em pessoas transplantadas. Meu irmão, transplantado de rim, usa a azatioprina. Trata-se de um remédio contra a rejeição de órgãos. Exatamente isso! Para o meu intestino não ser rejeitado por mim e eu mesmo parasse de atacá-lo. Claro que era mais um remédio caro, mas esse aí o meu irmão recebia de graça e tinha sempre sobrando. Também recebi do Governo, mas como a mesazalina, vivia em falta.
O tempo passou, a grana ficou curta de verdade. O convênio da empresa me permitiu conhecer outro médico. Tratava-se do Dr. Paulo Marcelo. Igualmente humano, igualmente competente. Fez parte da equipe que tratou vice-presidente José de Alencar. Continuamos o tratamento. Como estava tendo crises muito seguidas, a atitude seguinte seria aumentar a dose de azatioprina, o contra rejeição. Infelizmente, causou-me uma pancreatite medicamentosa e, nesses casos, deve-se suspender permanentemente, ou seja, não tomaria mais o medicamento mais avançado pra doença. Agora, preciso procurar outro médico, pois o Dr. Paulo não atende mais. Essa é mais uma dificuldade. Não basta ser gastroenterologista, é preciso saber lidar com a doença especificamente.
Quando comecei o tratamento com Dr. Antônio, tive minha época mais ativista no que diz respeito à doença. Entrei em comunidades do Orkut, troquei experiências, aprendi e ensinei, consolei e fui consolado. Conheci gente especial, como a Patrícia Mendes, de Minas, que se tornou minha amiga-irmã. Comecei a entender outras coisas sobre a doença dessa forma.
Para entender o que passo, resolvi fazer uma enquete na internet sobre a intensidade da dor da crise então, perguntei às mulheres portadoras da doença que haviam feito parto normal qual era a intensidade da dor da crise em comparação à dor do parto. Todas foram categóricas em afirmar que era a mesma. Tempos depois, tive uma crise renal e lembrei que uma amiga da família teve parto normal e cólica renal e fez a mesma afirmação. Pude, então, associar as três dores. Imagine sentir dores de parto por várias vezes ao dia e à noite.
A crise é isso: sentir dores fortíssimas por 10, 15, 20 vezes ao dia e à noite. Ela debilita porque a gente não dorme à noite. Cada vez que se vai ao banheiro são muitos minutos de dor muito forte. Muitas vezes, a gente acaba de sair do banheiro e tem que voltar par uma nova sessão. Não tem analgésico que dê jeito.
Também aprendi que a retocolite não é é absoluta, ou seja, ela se manifesta de diferentes maneiras nas pessoas. Algumas, de fato, têm problemas com alimentação, do tipo que não podem comer certas coisas que passam mal. Tem quem beba uma cerveja e sofra as consequências por isso e tem quem encha a cara e não sofra um tico no dia seguinte. Tem quem viva em crise, tem quem vive com o intestino instável. Alguns não vivem sem medicação contínua, outros só usam em época de crise. Tem quem tenha crise por qualquer problema e tem os que raramente têm crise.
Passados 15 anos, já tive várias crises e, se não perdi a conta, oito internações. Isso me gerou algumas consequências. A dose inicial de corticoide para tratar a crise teve que ser elevada para 80mg (há 15 anos eram 40mg). É um aliado poderoso no combate a crise. Entenda como crise sangramentos por semanas. Mas o corticoide traz severas consequências ao organismo. Já tive quase glaucoma, tive catarata medicamentosa, minha pressão arterial chegou a 18 por 11. A respiração é dificultosa, atividades simples, como um banho, cansam demais. O calor debilita, as cãibras são terríveis, as pernas sentem logo o cansaço e dedos, mãos pés e pernas travam do nada. Fora isso, tem o sintoma periférico da retocolite, que é a dor nas articulações.
A crise de retocolite é cruel. Trabalhando na iniciativa privada, por muitas vezes precisei tirar forças de onde não tinha pra não me licenciar tantas vezes. Acordava pra trabalhar às 4:20h, mas precisava acordar uma hora antes para ficar indo ao banheiro. Não era suficiente para evitar coisas ruins. Quase sempre eu tinha uma crise no meio do caminho, ou seja, tinha que segurar a dor a sangue frio, às vezes dirigindo, às vezes em um ônibus, em pé.
Tem o lado social também. No meu caso, a autoestima despenca porque fico inchado no rosto. Isso pode parecer besteira no meio de tanto sofrimento sério, mas pra mim é algo a mais e não algo pequeno que se pode comparar a todo o resto. A retocolite me fez desistir da música, minha paixão. Não posso me comprometer mais com os palcos com tantas restrições. As crises me prendem em casa e não posso ir a lugar algum. Tive que largar os shows por isso também, fora que a prednisona resseca as cordas vocais. Tem também a questão das cãibras e os dedos travares, não me permitindo tocar direito. A demora da remissão da crise me deixa mal humorado, e a variação de humor já é um dos efeitos colaterais da prednisona também. A doença me fez parar a faculdade e não iniciar novos projetos. Foi na marra que me tornei funcionário público, pois foi em meio a crise que estudei. Ela estraga bastante a pessoa que todos estão acostumados a ver. A minha paciência vai a zero, dependendo do caso, dou respostas grosseiras, mas me calo na maioria das vezes. Em 15 anos de doença, são as mesmas perguntas, as mesmas recomendações, os mesmos conselhos. A crise demora semanas e mais semanas pra acabar, mas as pessoas me perguntam todos os dias se estou melhor. Culpa de ninguém, mas isso me irrita e não posso controlar. Acabo por evitar as pessoas nesses dias difíceis.
As pessoas têm boa intenção, querem sempre ajudar, se preocupam, perguntam, mas como nada sabem sobre a doença ou mais ainda, não sabem como ela se manifesta particularmente em mim, aconselham, dizem que tenho que fazer isso, não fazer aquilo. Todos associam minha doença ou suas crises a algo, na maioria das vezes com o que eu como ou bebo. Mas, às vezes, vai um pouco além.
Outro dia, uma pessoa associou minha crise a um mau momento pessoal. Bem, isso é lógico, pois as crises vêm com problemas emocionais mesmo. Mas ainda essa mesma pessoa disse que teria a ver com a minha questão espiritual, que isso estava assim por eu estar longe de Deus e tal. Eu permaneci longe de Deus por vários anos na adolescência e, meses depois de voltar à Igreja, descobri a doença. Associar isso a estar perto de Deus ou não é incoerente, pelo menos no meu caso. Eu não culpo Deus. Tenho retocolite porque isso dá em gente, em ser humano. Se eu fosse um cão, talvez tivesse sinomose ou parvovirose. Minha mãe vive orando, amigos da igreja fazem o mesmo e pedem pela minha cura. Eu mesmo pedi muitas vezes, crendo de verdade, lógico, pois não pediria algo a Deus sem acreditar. Mas hoje, me conformo. Usam o texto de uma mulher com fluxo de sangue que tinha isso por anos e que foi curada por Jesus. Eu creio nisso, faz parte da minha convicção religiosa, só quero ter o direito de achar que Deus não quer isso pra mim. Não tenho raiva de Deus, não me revolto com ele. Ele quis assim e ponto final. Minhas convicções religiosas não me “permitem” achar que todo tipo de reza ou pedido de outras religiões são bem-vindos, que somam. Não, eu acredito apenas na minha e pronto. Agradeço muito quando torcem por mim, mas acho que nada soma nessas horas. Eu não sofro menos por receber orações. Penso que, no meu caso, elas não vão me curar. De outras religiões porque não creio nelas e da minha por achar que Deus não quer isso pra minha vida.
Saindo da religião, não existe nenhuma fórmula mágica, nada tão oculto que não tenha sido descoberto para a doença. Já tomei os remédios mais avançados, e os exames são todos os mais adequados. Perguntam de cirurgia, se ela é possível. É sim, mas é um caso muito extremo. O tratamento usual é o que faço. Se um dia ele não der resultado, existe uma outra etapa, com um medicamento chamado Remicade, que é aplicado em hospital com semi-internação. A cirurgia que tanto perguntam é a retirada de parte do intestino e ficar com uma bolsa pendurada no corpo no lugar dele, que deve ser esvaziada algumas vezes por dia. Nada bom, né? Não é uma alternativa que se pense, não? Eu não penso nela. Prefiro tomar esses remédios e aturar seus efeitos.
Sobre a comida, bem, como eu disse, não tenho restrições alimentares. Bebida alcoólica? Eu não bebia até dois anos atrás, aliás, bebia até meses antes de ter crise, ou seja, bebi por cinco anos sem ter nada manifestado da doença. Parei de beber, voltei pra igreja (entende-se: passei a ter uma vida regrada novamente) e então veio a doença. Fiquei 13 anos sem beber e depois que voltei, não senti nenhuma diferença. Eu como de tudo, bem, tudo que gosto. Não tenho alteração nenhuma quando como um torresmo, uma lasanha, carne de porco, de boi, de frango, peixe, ovo, leite... nada altera meu intestino diferente do que poderia alterar o de qualquer outra pessoa. Aliás, algo sim. Como eu disse, a retocolite se manifesta de diferentes formas nas pessoas. Eu evito os condimentos fortes ou coisas que tem essa característica. Como presuntos e embutidos, hambúrguer, mas não posso comer mortadela. Quando como, tenho consequências no dias seguinte, mas não é crise da doença. É uma reação normal que dura o tempo do dias seguinte e pronto. Não passo mal, não tenho sangramentos, não fico dias indo ao banheiro com diarreia. Nada disso. Mas eu evito a mortadela. Quando muito uma fatia com pão e só, mas raramente. Comprar eu não compro. Como quando estou na casa de alguém e só. Se eu comer sempre vou ter crise? Não sei, é condimentado e essa foi a única recomendação que tive do médico. Então, sigo o que ele disse.  Mas como eu falei, as pessoas fazem uma associação direta e lógica. O problema é no intestino, portanto, está ligado à alimentação como uma gastrite. O que as pessoas têm que entender é que a alimentação não tem nenhuma influência na minha doença, nem na causa e nem na consequência. Às vezes, estou em crise e faço uma restrição de lactose, mas tem dia que não suporto e resolvo tomar um café com leite e o mais interessante é que esse café com leite, em vez de trazer consequências ruins, traz boas, pois ao mesmo tempo que estou ingerindo lactose, estou me satisfazendo, ou seja, estou mais feliz naquele momento porque a restrição alimentar da crise também tem um efeito dominó. Se ela se prolonga por muito tempo, ela acaba comigo. Não adianta usar do artifício “é pro seu bem”, que não resolve. Se na crise eu tiver que comer um empadão, vou comer. Não se trata de ser maluco, de fazer loucuras ou ser inconsequente. São nada menos que 15 anos lidando com isso, sabendo os limites do corpo, entendendo o que posso ou não fazer. Estou saindo de uma crise e ontem tive vontade de comer linguiça fritinha, bem torradinha no macarrão que tinha feito. Comi. Piorei no dia seguinte? Não. O estômago reclamou? Não. Voltei a ter sangramentos? Não. Eu arrisquei ter? Talvez, mas até então nada aconteceu e não falo dessa vez, falo de fazer isso por esses anos todos. Essa é a razão pela qual converso com a nutricionista sempre que me internam. Claro que elas nunca me ouvem, pois seguem uma cartilha que diz que diarreia pede dieta constipante. O argumento é que se eu não fizer, será pior. Eu não vejo isso na prática e mesmo que sentisse isso, preferiria sofrer um pouco mais comendo coisas boas do que sofrer duplamente com a crise e com a dieta. Não é o caso. Sofrer não é bom e eu não faria nada comigo que me levasse além do limite, porque a crise, pra mim, por enquanto, é o limite.
Então, com todo respeito às pessoas que tentam me ajudar, que contam suas histórias e experiências, acho que cada um tem a sua medida, sabe do seu sofrimento. Mais um detalhe. São tantos anos sofrendo com isso. Será que eu não trocaria tudo isso, quase morrer por algumas vezes, sangrar por semanas, perder autoestima e outras coisas mais por uma dieta? Se os médicos dissessem que eu teria que comer isso e aquilo e deixar de comer aquilo outro pra ficar bom, eu faria sorrindo. Pena que não é o caso, ou não. Sabe-se lá se eu suportaria uma vida de privações. A amiga que me indicou o Dr. Antônio Carlos Moraes tem síndrome do colo irritável, muito menos severa que a retocolite, mas que proíbe a lactose. Já pensou?
Eu poderia resumir a doença assim. É hereditária, não tem cura, é tratável. Não tem restrição alimentar, está diretamente ao emocional, todas as crises são desencadeadas por algum problema da vida. Não existe fórmula mágica, nem remédio ainda não descoberto em outro país. Eu não estou sozinho nessa. Tem comunidades de gente que se engaja de saber de alternativas, remédios novos. Acreditem, se houvesse algo novo e inovador, eu saberia. Essa é a realidade de retocolite na minha vida, uma doença que varia de pessoa pra pessoa. Uma doença que é muito difícil pra mim, que me traz restrições, que acabou com minhas veias. Não sei já me conformei de vez, mas relaxo.
Eu desejo muito o carinho das pessoas, embora todo esforço que façam pra me entenderem não seja suficiente. Apenas alguns amigos mais restritos entendem do que falo. É um problema severo que não tem graça, não admite piadas, não deixa margem pra risos. Não é uma caganeira, não tem graça dizer que é pra tomar chá de rolha ou comer farofa. Não é bom ficar em casa preso, sentir dor, ficar inchado, abandonar sonhos. É ruim e realmente não tem graça. Tive crises tão severas que pedi pra morrer várias vezes, pedi a Deus que me levasse. O desespero me fazia esmurrar minha própria barriga. Isso mesmo, dava socos em mim mesmo por não saber mais o que fazer. Alguém ainda acha que pra um quadro tão grave um suco de goiaba vai resolver?
A crise deprime, mas isso passa. Depois a gente respira e volta tudo ao normal. Infelizmente, alguns mais próximos me poupam dos problemas quando estou mal, mas se esquecem de fazer o mesmo quando estou bem. As pessoas me trazem problemas desnecessários, descarregam em mim e podem gerar crises. Depois, não adianta ter cuidado comigo porque depois que se arromba o cadeado tanto faz.
Procuro ter uma vida mais tranquila, uma cabeça boa,  mas nem sempre isso evita a crise. Já tive crise estando bem da cabeça, mas o intestino absorve, não tem jeito. Não está no meu controle, quase nuca está.
Bem, meu objetivo era trazer a realidade da minha doença pras pessoas que conheço. Espero que tenha conseguido.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

"HOJE NÃO ESTAVA NADA BEM, MAS A TEMPESTADE ME DISTRAI"

Enquanto ouvia "Esperando Por Mim", prestava atenção nos arranjos musicais. Engraçado como simplicidade nada tem a  ver com algo ruim. Claro que gostar ou não de Legião Urbana está em cada um e gostar muito ou ser fã é mais particular ainda. Mas com o conhecimento que adquiri de música nos meus quase todos os anos em contato com ela, vejo o quanto a Legião sabia fazer isso. Preencher a música ao mesmo tempo com simplicidade e inteligência.

"Esperando Por Mim" fala dos "pingos de chuva, dos relâmpagos e dos trovões", exatamente o que acontecia quando ouvia a canção. Até nem acredito que seja proposital, mas a música sugestiona isso: que a mesma combina com o temporal. O temporal pode ser terrível para muitos quando suas consequências são desastrosas, mas poeticamente  falando, o temporal, ao contrário do que a literalidade da coisa apresenta, é algo extremamente tranquilizante. Ouvir a tempestade traz certa tranquilidade que até então não havia me dado conta.

O cenário é um homem em crise de uma doença crônica, que havia acabado de chegar do hospital sob forte tempestade e que havia passado dias terríveis. Chega em casa e não há energia, apenas um pouco de carga no notebook e um violão pra se distrair. Aí a gente se dá conta dos efeitos da natureza no nosso corpo. Se eu estiver mal, tomara que chova...

Ainda chove, a luz já voltou, eu estou mais calmo graças a chuva que Deus mandou pra me acalmar e refrescar o planeta. Eu precisava disso, sabe? De uma demonstração divina nas coisas que a gente nem percebe pra eu saber que os meios que Deus tem de nos trazer coisas. Confesso que por essa eu não esperava. 

Eu vou ficar aqui ouvindo a chuva e sentindo a brisa fresca que ela ainda traz. Está me fazendo um bem danado.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

UM 2013 BOM OU UM FUTURO MELHOR?


Vamos ser sinceros: a vida não vai mudar porque o ano mudou. O seu chefe estará lá no primeiro dia do ano, seus clientes chatos também. Aquele professor chato do período anterior pode te dar aula no segundo módulo da mesma matéria. Seus vizinhos vão continuar te incomodando.

Falando por mim, dormi em 2012 e acordei em 2013 passando muito mal de novo. Outra crise, a mesma do início e do meio de 2012, a mesma de 2011 e a que se repete desde 1998. Tem coisas que não tem como a gente ter mesmo esperança de melhorar.

Embora eu seja bem cético com relação à renovação de votos para o ano novo, acho que a gente pode planejar muitas coisas, sim. No fim do ano, quitamos dívidas e, sem promessas no estilo "começo na segunda", é a oportunidade de não repetirmos os erros do ano anterior pra melhorar as coisas. Acho que, pensando por esse modo, cada ano pode se tornar melhor se, de fato, mudarmos nossas atitudes. Tornar 2013 melhor depende só de nós mesmos. E, sem falso otimismo, isso irá modificar muito pouco no que diz respeito ao alcance no mundo. A gente se realiza em muitas coisas, realiza coisas nos que estão ao nosso redor e... só.

Falando assim de novo, eu fico tachado mesmo como "O" pessimista. Mas essas mudanças que parecem simples eu não acho pouco, não. Ao contrário. Eu pretendo crescer dentro da minha empresa mesmo com essa doença complicada. Pretendo me superar cada vez mais. Isso requer esforço, e um grande esforço. Com a escassez de tempo que nos acomete, crescer na vida tornou-se um grande desafio, sem contar a concorrência. Por isso, embora as mudanças façam parte da nossa rotina, elas são importantes e são resultado de mudanças internas, nada simples.

Modificar coisas dentro de nós é complicado. A gente tira a preguiça, o comodismo, a desmotivação de dentro de nós. Almejar coisas existe paciência e fé. Pensar que aquilo dará resultado.

Nesse ponto, eu tenho esperanças em 2013. Pra ser mais sincero, tenho esperanças no futuro, mas preciso fazer algo pra isso. Se vai se realizar no ano que está nascendo ou não, eu não sei. Talvez seja essa a esperança que cada um tem e eu não enxergo. A esperança que tenho não tem referência com o calendário mas o resto do mundo pensa assim.

Espero que 2013 seja um ano muito bom para todos nós. Se algo relevante acontecer, fica a referência da data e dilui-se a magia da realização do ano novo. 


domingo, 30 de dezembro de 2012

MAIS UM MARCO. MAS SÓ.

Mais um ano se encerra e os discursos se repetem. A palavra "esperança" toma corpo, vira moda e vira combustível para as mensagens de fim de ano e nos pensamentos de autoanálise.

Eu mesmo nunca acreditei nisso. Pelo menos não na magia do Ano Novo, em algo que torne a virada, a mudança de ano em uma ferramenta de transformação. Na quarta-feira, as rotinas voltarão, o trânsito seguirá mais engarrafado, as filas nos bancos vão estar grandes, o Datena vai continuar com seu sensacionalismo de más notícias. Em 2013 haverá campeonatos, novos programas de entretenimento, políticos corruptos impunes, falta de saneamento básico, desigualdades. O oriente médio vai continuar naquela interminável guerra, as crises afetarão os países e o ser humano... bem, o ser humano não muda. Quanto mais se fala em esperança no mundo melhor, mais ele piora por causa do egocentrismo de cada um de nós.

Obviamente, longe desse blogueiro com poucos, mas importantes leitores, querer transmitir uma imagem de pessimista resmungão. É que as belas mensagens desaparecerão antes que janeiro complete sua primeira semana. A rotina nos sufocará. O que resta pra gente, então?

Fazer a diferença para o mundo é uma ideia um tanto utópica. A gente tem mesmo é que modificar a nós mesmos e o finito mundo que nos cerca. Fazer diferença até onde nos for permitido. 

Mas a passagem de ano não é inútil. Serve ao menos para referência. Eu posso olhar pra trás e ver coisas. Fui demitido depois de mais de oito anos de empresa e o que parecia ser motivo de desespero logo se tornou algo bom, porque depois de 18 anos, passei em um concurso público. Voltei a ter meu cantinho, embora meu, meu ele não seja. Comprei coisas pra mim, estreitei minha relação com Vanessa e Eloá. Foi um ano decisivo para medir algumas amizades. Perdi amigos, ganhei amigos, enquadrei alguns em níveis maiores, outros, em menores.

Acredito nisso apenas como um mero balanço. É como uma empresa. Ela faz o balanço anual, mas em janeiro quer lucrar novamente. Ela não espera chegar dezembro pra fazer algo a respeito. É bonitinho esse negócio de "Ano Novo, vida nova", mas soa meio como começar regime na segunda. Os erros que cometemos não precisam esperar o dia 31 para se tornarem promessas que serão sufocadas pela nossa rotina. Aliás, nem existe prazo pras tais mudanças. A gente pode levar um solavanco da vida e se consertar no dia seguinte, mas tem erros de 2012 que a gente só vai se dar conta em 2020 e isso é a coisa mais natural do mundo, desde que o mundo assim o é. Vem a sensação de tempo perdido, de que poderia ter sido diferente. Isso não tem a ver com réveillon, nem com aniversário, nem Natal. Tem a ver com a nossa capacidade de mudar, da maturidade pra cada fase e âmbito da nossa vida, das circunstância permitirem.

O ano de 2013 vem aí e eu não espero nada diferente do que em 2012, o que não quer dizer que não vai melhorar e muitas coisas, mas vai piorar em outras tantas. Sem magias, eu espero que 2013 demore a chegar pra que esse feriado se prolongue ao máximo. Só isso...