Procurador de coisas

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

NÃO ME DIGA ISSO

"Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz
Mas não me diga isso"

Jamais eu teria a loucura de me tornar ateu. Podem dizer que o teísmo é insano e ilógico. Cada um raciocina como quer, inclusive ateus, pois Deus os deu capacidade intelectual pra pensarem.

Mas na boa. Não me falem de milagres, de curas, de conforto. Há anos sofro com essa maldita doença sem alento. Ouço tanto falar de cura, já ouvi isso pra mim e de mim. Não quero pensar mais nisso. Continuo crendo no poder divino e no milagre, mas na vida dos outros porque na minha já me conformei que isso não vai rolar. São 14 anos e não estou mais disposto a esperar por isso sob o risco de me tornar frustrado. Eu não tive nada amenizado durante esses anos. A dor é intensa, é forte de fazer desmaiar quase, de pedir pra morrer, de querer desistir. Sofri como qualquer ser humano da face da Terra pode sofrer. Não tem porque eu ter qualquer privilégio diante de Deus pra ter o benefício da cura. Não que dependa de mim, claro, depende de Ele querer. Fato é que eu me convenci que essa concessão não está nos planos de Deus. Ponto e basta.

Por favor, amigos crentes, não me digam que Deus vai me curar porque Ele não vai. Não me diga que a dor vai ser menor porque não será e nunca foi. Vou passar o resto do que puder suportar dessa vida com esse problema que me parece maldição. 

Não me julgue se você não sofre assim. Não tente achar erros em minhas palavras, me reprovar se você não tem a mínima ideia do que um ser humano como eu precisa suportar a cada dia. Não me chame disso ou daquilo sem poder entender a intensidade da dor, de ver a vida se esvair pelo esgoto, de perder noites de sono, de ter que se levantar na marra e sair pra trabalhar porque se ficar em casa a coisa piora, pois o mundo é cruel, muito cruel.

Então, na boa, antes de falar em ceticismo ou em qualquer outra coisa que se refira a uma possível cura, antes de achar que estou desacreditado em Deus e que minhas palavras são insanas, peça a Ele que te dê um pouco da minha dor, um dia que seja. Talvez você nem suporte. Deixe-me sentir essa porcaria de dor que me acompanha do meu jeito, assim, sem esperança de que um dia as coisas vão melhorar porque não vão mesmo.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

DEU SAMBA

Samba nunca foi meu gosto musical mas não dá pra ser contrário ao bom gosto. Esse grupo aí em cima é a prova de que a música pode ser feita com excelência. Note que todos participam ativamente, completamente envolvidos com a música. Eles simplesmente se divertem com seus instrumentos.

É suspeito eu elogiar porque eles estão trazendo o rock pra dentro do samba. Mas percebe-se todo um cuidado pra que não se agrida o original e que tudo seja feito de forma bem detalhada. Não é uma levada só do início ao fim. Dá pra ver que os arranjos foram bem pensados e que se gastou tempo ali.

Não vou virar sambista por causa disso. Apenas aprecio quando algo é feito de um jeito que se percebe que a preocupação é fazer música. Sambô mostrou o quanto a música pode ser infinita de opções, o quanto pode nos surpreender. Nesse caso, tenho que render ao talento do grupo que soube integrar rock e samba, guitarra e pandeiro, voz rasgada de rockeiro, inglês e batuque. Quem dera o Brasil exportasse esse tipo de coisa em vez da pobreza do "Ai, se eu te pego." Certamente nossos artistas teriam conquistado muito mais se fizessem trabalhos sérios como esses aí.


DESNECESSÁRIO

Quanta polêmica tem aparecido ultimamente na mídia. Acabo de ler sobre declarações do Papa e da posição da Igreja Católica sobre o casamento gay. É um tal de gente argumentar pra lá, outros falam pra cá. E o povo segue complicando mais um assunto que já é de pacote fechado.

Eu queria muito ter o direito de trabalhar de bermuda e camiseta. Com esse calor e sem ar condicionado no meu ambiente de trabalho, muito quente por sinal, seria ideal pra fugir um pouco dessa quentura. Mas eu trabalho numa empresa e vivo numa sociedade que impõe regras. Aqui trabalha-se de calça e camisa mesmo e, no meu caso, guardapó. Por mais que eu ache absurdo não poder, tenho que seguir as regras. Até mesmo pra não virar piada (lembro-me de um arquiteto que trabalhou fiscalizando a empresa de conservação de áreas verdes que trabalhei e era conhecido como "bermudinha").

Acho tudo isso tão desnecessário. Aliás, diga-se de passagem, na contramão do que acontece hoje. O que as pessoas menos procuram é casar. Instituiu-se a tal união estável com a qual se aquire os mesmos direitos de um casamento formal. Fato é que querem impor isso às igrejas, às religiões. Acredito que alguém pode ser aceito onde os direitos devem ser iguais. Negros, mulheres e homossexuais têm o mesmo direito a transporte e saúde pública de qualidade. Devem ser tratados com todo o respeito como cidadão que contribui para a sociedade e governo com tanto imposto. O absurdo de tudo isso é tentar impor isso a um religião.

Eu não gosto de funk e pagode e não quero ser aceito num ambiente assim. Querem se casar em uma instiutuição que condena o homosexualismo, querem que a igreja aceite isso. Igreja não é governo. Quer ser católico e andar condizente com suas leis? Quer ser devoto de santo? Desculpem, mas isso não é compatível com ser gay. Se alguém quer pertencer a uma igreja tradicional ou neopentecostal que usa terno e gravata e não se submete a usá-lo, me desculpe, procure uma igreja que aceite suas ropuas e condiga com seus hábitos.

O papa, seja ele qual for, vai sempre se posicionar contra o homossexualismo e está certo em fazer isso porque padre não é presidente. O mesmo papa que é contra o homossexualismo certamente é contra a discriminação do mesmo e esses princípios religiosos andam juntos, sim. Jesus defendeu uma mulher adúltera, deu valor a ela, apesar de não concordar com suas atitudes. Ele disse pra ela não pecar mais.


Eu não fico em cima do muro. Pela minha convicção religiosa, me posiciono contra o casamento homossexual religioso. Agora, se existem religiões que permitem isso, então que seja. Se no âmbito jurídico isso é permitido, tudo bem. Inconformismos como esses geraram a igreja contemporânea, onde os pastores fundadores são gays (e "casados", acho). Não acho absurdo uma religião que permita o homossexualismo. O absurdo é criar uma denominação cristã cujos princípios não permitem tal coisa.

Eu convivo normalemente com homossexuais, homens e mulheres. Convivo com negros, pobres. Não vejo porque tratar de maneira diferente qualquer pessoa por opção sexual, cor, raça, sexo ou qualquer rótulo discriminatório. Eu discrimino, sim, gente chata, gente prepotente, gente que não sabe respeitar o próximo. Desses, sendo o que for, eu deixo de lado, sim porque ninguém é obrigado a aturar mala. 

Se o homossexual quer casar e a religião não te permite isso, paciência, fique apenas com a parte civil, cujas regras vão variando conforme a sociedade muda. 

Não sou católico. Não importa o quanto a igreja católica errou ou erra ou o que fizeram seus líderes. Se existe hipocrisia, se enriquecem com o povo, sei lá. Não importa o quanto os pastores de hoje em dia têm sido safados. Não importa a vida do rabino ou do líder muçulmano. Fato é que todos esses têm princípios a seguir ensinar e isso não vai variar com a modernidade dos tempos. Os princípios são baseados em seus livros sagrados - bíblia, torá, acorão - e lá é que se deve ler e ver se você está disposto a seguir seus princípios. Templo religioso não foi feito pra se realizar sonho, foi feito pra contemplação dos seus devidos deuses. Tentar impor novas regras a isso é que é desrespeito.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

INSUBSTITUÍVEL

Sabe aquelas frases que as pessoas repetem como verdade absoluta? Uma das mais conhecidas é "Você não deve se arrepender do que fez, mas do que não fez". É a frase mais arrogante que o ser humano pode dizer porque isso é não admitir erros. Mas a questão é uma outra frase que se repete aos montes por aí e em todos os segmentos: ninguém é insubstituível. Será?

A modernidade, a correria e a disputa acirrada pelo próprio espaço fizeram da rotatividade uma moda. Essa declaração separa a capacidade do ser humano. Frase moderníssima, mostrando que o mercado está aí com cobra comendo cobra e com alta concorrência. Aí, bons funcionários, bons namorados, bons músicos são tratados com mera peça que pode ser reposta a qualquer momento. Claro que se levarmos em consideração a capacidade humana para o trabalho, o amor ou qualquer outra coisa, outro pode assumir nossas funções, mas consideram isso demais e o ser humano vai perdendo valor.
Somos dotados de personalidade, temperamento, crença. Reagimos de maneira diferente entre nós e para uma mesma situação em ocasiões diferentes, com pessoas diferentes. Somos únicos. Creio que muitos outros têm a capacidade de exercer minha profissão de maneira até mais eficaz. Os músicos com os quais toquei recentemente certamente são bem melhores que eu. Na empresa onde estou e na banda que participei sou comediante, faço rir, sou resmungão e exijo bom tratamento e direito cumprido. Não se trata só do músico ou do colaborador da empresa, mas de toda a maneira única que lido com cada um, com cada coisa. Claro que existe alguém que toque mais violão que eu mas esse alguém também seria um dedicado legionário para buscar detalhes do que se toca? Eu duvido. E na empresa? Alguém tem a mesma capacidade de elaborar um bom relatório, sem erros de português, organizado?

Todos somos insubstituíveis. Pergunte a uma mãe se ela ficaria consolada em ganhar outro filho depois de perder um. Duvide que alguma mãe aceite trocar um por dois ou três. Eu sou insubstituíveis e as pessoas a quem prezo também são. Todos tem uma forma exclusiva de lidar comigo e eu tenho o mesmo com elas. Pra alguns, sou confidente e sei segredos que deixariam qualquer pessoa de queixo caído. Pra outros nem confiança eu inspiro.


Creio que devemos respeitar as pessoas pela sua essência e não meramente pelas capacidades que têm. Patrícias, Rodrigos, Anas, Luanas, Paulas... Quem pode fazer por mim o que meus amigos fazem? Eu posso falar sobre a minha doença com qualquer pessoa, mas ninguém me entenderá como Patrícia. Posso me queixar dos meus fracassos com qualquer pessoa, mas ninguém me apoiará incondicionalmente como Rodrigo. Posso receber boas orientações para a vida, mas minha psicóloga amiga sempre será Ana. Eu posso fazer muitos rirem mas ninguém demonstrará tanta graça com o que faço como Flor. E posso revelar muitos segredos e falhas mas ninguém me conhece tão intimamente como Paula.

Por aí vai. Eu posso até ter mais amigos, conhecer mais pessoas. Mas as que entram já cumprem papel exclusivo na minha vida. São todos insubstituíveis.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

VAMOS TRABALHAR

E a rotina continua. O ano de 2012 promete. Promete ser como o de 2011 ou o de 2010... Obviamente, coisas diferentes acontecem. Um curso novo, uma faculdade, algo que se terminará, algo que se começará. Mas na essência, tudo será o mesmo. Alegiras, tristezas, frustações, superações, saudades, comemorações, medos, encorajamentos, desafios, rotinas.

Parei pra observar as mensagens de ano novo dos artistas da TV e nada pode ser tão clichê. Fora a velha musiquinha de "Adeus, ano velho, feliz ano novo...". Alguns me acham demasiadamente prático e sei lá se deve ser melhor acreditar no abstrato. Eu prefiro acreditar no trabalho e nele bem feito. Um amigo acaba de me contar sobre uma briga generalizada em família, onde irmãos se espancaram e alguns sairam com cortes profundos de facadas. Essas pessoas estavam trajando branco, bebendo felizes da vida. Ninguém para pra perceber que o símbolo, no caso a cor, não funciona sem o gesto mas o gesto funciona sem o símbolo. 
Ontem, um humorista de stand up falava, num tom bem humorado sobre as pessoas se vestirem de branco: "Até quando as pessoas vão perceber que isso não adianta?". Pior que é verdade mesmo, mas sei lá porque as pessoas não se dão conta disso. Todo ano estoura uma guerra, a violência apresenta números alarmantes, as famílias entram em conflito. E paz nem é só isso. Acredito que quando se fala em paz, isso corresponde a harmonia. Passeatas acontecem com milhares de pessoas vestidas de branco. Falam de uma paz que é o antônimo de guerra mas dentro de suas casas não conseguem ser tolerantes com seus cônjuges, filhos, pais, irmãos, vizinhos... Resumem o conceito de paz ao desarmamento. Que mané paz...

Eu não uso branco no ano novo. Não por implicância nem provocação. Não uso porque não vejo necessidade. Até já usei, mas não pelo branco e porque ele iria me trazer um ano novo de paz. O que não dá pra entender é que as pessoas repetem isso ano após ano realmente acreditando que será diferente dessa vez, como se acreditar fosse realmente mudar o mundo. Tem quem nem coma ave com a história de que ela cisca pra trás. Alguem acha que se o Bill Gates ou o Eike Batista passarem o Ano Novo de azul ou lilás ou comerem perdiz assado no ano novo a vida deles não vai prosperar? Ou se eles deixaram de comer aves e usaram branco durante todos esses anos, seria esse o motivo do sucesso?

Vi uma entrevista do Golçalves, ex-jogador botafoguense, reclamando das camisas dadas ao Botafogo num campeonato de Showbol, pois a torcida botafoguense era supersticiosa e isso atrapalharia o desempenho do time. Aí, me lembrei de uma antiga entrevista com o Zico, ídolo rubronegro, perguntado se ele acreditaria em superstição no futebol. Ele foi prático: "Eu acredito no trabalho, no trabalho bem feito." Aliás, se fôssemos julgar pela superstição, o Botafogo teria muito mais títulos que os demais e o que o ocorre é exatamente o contrário.

Meu révellion começou ótimo. Creio que foi o melhor dos meus 35 anos. Foi diferente e mágico, mas tenho noção de que foi só um dia bem planejado, onde as coisas saíram bem. Não vou pensar que isso é um prenúncio de que o ano será maravilhoso. A gente vive um dia de cada vez e está sujeito ao imprevisível.

O que vai reger esse e todos os anos que vão se seguir é isso: o inesperado. Não tem roupa, nem comida, nem figa que mude o rumo das coisas. É só olhar pra trás e perceber que nada se faz por isso.

O que eu quero pra 2012? Ser prático, mas não no sentido da não superstição. Quero fazer mesmo coisas por mim e pelas pessoas que eu puder alcançar. Alimentar e vestir a quem eu puder. Nada de ser bom samaritano, mas fazer o que puder ser feito, quando puder ser feito e jamais fugir das opornunidades. Acho que, em vez de nos prendermos às coisas que nada serão práticas, deveriamos fixar metas e cumprí-las.