Procurador de coisas

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CONTANDO NOS DEDOS

Muita empolgação pelo dia do amigo. Muitas mensagens de celular, em redes sociais, figurinhas coloridas em e-mails... Isso me faz lembrar a palavra "milagre". Fala-se hoje  no nascimento como o "milagre da vida". Isso não é milagre. Isso é comum, acontece a cada segundo em todo o mundo com gente e com bicho. Assim, banaliza-se a palavra milagre. Da mesma forma, ser amigo passou a ter outro status.

Hoje, a gente mal simpatiza com alguém e faz algum desabafo e logo estamos amigos. Algumas semanas de contato e poucas afinidades são suficientes pra aquela nova pessoa adquirir o status de amigo.  As pessoas fazem um cursinho preparatório de dois meses e faz novos amigos. Começa em uma empresa e na primeira confraternização já tem ali um novo ciclo de amizades.

Há tempos ando revendo meu conceito de amizade e cada vez percebo que, em cada decepção, ser amigo é ser diferente do que era antes.  A gente sofre alguns golpes e vê naquilo um conceito novo, um item negativo que a gente tem que inverter pra saber que virtude um amigo precisa ter pra não agir daquela forma com a gente.

Outro dia, uma amiga de anos fez um julgamento tão precipitado ao meu respeito que percebi que aquilo não era apenas sobre a situação mas o que a pessoa pensava sobre o meu caráter. E lá se foi mais uma amizade. Outra pessoa disse algo a uma namorada minha que causou o fim da relação. E nisso, a gente vai se cercando de cuidados pra não encontrar isso nas outras pessoas. Um amigo não pode julgar e precisa saber guardar segredos.

Agora, percebo que uma pessoa que eu estimava por muitos anos me fez perceber o quanto estou longe de ser uma prioridade da vida dela. Sem pretensão, num hall de grandes amigos ou melhores amigos, acredita-se um pouco e estar na frente em relação aos outros "amigos mortais", pelo menos é assim que trato. Mas percebi que existe uma grande facilidade em se aproximar de alguns enquanto o esforço é zero quando se trata de termos apenas alguns momentos de boa conversa. E nem sei se é pior saber que pra se aproximar desses outros houve grande esforço em vez de isso acontecer naturalmente. O fato é que só está perto da gente quem quer porque vi que, quando se quis, essa pessoa logo procurou estar perto desse outro amigo. Eis aí, então, mais um critério: amigo quer estar perto e se esforça pra que isso aconteça.

Engraçado isso. A gente deveria acumular amigos ao longo da vida mas percebo agora que isso acontece mesmo só por pura falta de critério ou pelo nível de exigência cair, minimizando a palavra "amizade". Mas comigo tem acontecido o contrário. Cada vez mais tenho a certeza de que conto os amigos nos dedos. Já tive que usar os pés pra somar esses. Hoje, talvez não precise das duas mãos...

Com tudo isso, espero muito mais do que saber escolher os verdadeiros amigos. Espero saber agir para que esses mesmos critérios se apliquem a mim. Tenho noção do quanto sou falho mas de uma coisa não abro mão, que é demonstrar o quanto as pessoas são importantes. Quando a gente não vê isso traduzido talvez não em atitude, ou nem sempre em atitude, ao menos em gestos. Isso eu vejo em raras pessoas. Olha que isso não tem a ver com distância. Taí  minha amiga Patrícia. que mora a mais de 400 quilômetros de distância e está sempre pronta a chorar com a minha dor e senti-la comigo. Sem falar no meu amigo irmão Rodrigo que sempre esteve ao meu alcance mesmo do outro lado do oceano. Amigos trocam segredos irreveláveis, como os que Semil e eu temos. Amigos ouvem, desabafam, aconselham, oram e apoiam como Reinaldo.

O "feliz Dia do Amigo" eu desejo a todos, afinal todos têm seus amigos, seja lá o que isso signifique. Agora, "Feliz dia do amigo, MEU AMIGO" não dá pra dizer a todos.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

SABER AMAR

Palavras soltas, perguntas, telefonemas, mensagens. Tudo isso parece tão simples pra quem quer cuidar de quem ama. Quem quer cuidar da pessoa amada faz isso tão naturalmente que pode nem perceber que está incomodando, talvez nem sempre, mas está. O cuidado pode parecer controle, obsessão, desconfiança. Tudo depende de como se fala, como se recebe.  Depende se alguém quer ou não ser cuidado, se acha ou não a preocupação importante.

Talvez, a melhor coisa seja deixar que a pessoa sinalize, mostre reagindo bem ou mal, respondendo com atitudes às suas preocupações. A sintonia entre o motivo e a preocupação é complicada.

Particularmente, o fato de eu ser uma pessoa extremamente intensa em sentimentos dificulta um pouco as coisas porque mostro uma preocupação constante. Eu não sei dosar, ou ainda não aprendi. Meu caso tem que ser, por enquanto, corrigido com um corte radical. Ou eu assumo o controle dos cuidados, ou dou toda liberdade. Não sei afrouxar a corda. Ou seguro firme, ou desamarro. Acho isso errado, mas enquanto não aprendi a lidar com isso, a corda pode enforcar.

Cuidar de quem se ama pode parecer simples e uma bela virtude, se pensado individualmente.  Porém, se colocada numa relação de duas pessoas, seja em que âmbito for, pode se tornar um defeito tão relevante que transforma cuidado em problema.