Procurador de coisas

domingo, 14 de abril de 2013

NÃO FEZ MAIS QUE OBRIGAÇÃO?

Na infância, isso é clássico. A gente estuda, tira uma nota alta e alguém, pai ou mãe, fala pra gente: não fez mais que sua obrigação.

Andei pensando nessa frase esses dias e no quanto isso é redundantemente ridículo. Já ouvi alguém dizer que uma pessoa que nunca se atrasou no trabalho por anos e anos não fez mais que sua obrigação, não fez mais que o mínimo que se esperava dele. Esse tipo de afirmação é utópica, é rude demais, completamente fora da realidade, pelo menos no que diz respeito ao ser humano.

Pensava nisso enquanto ia para um exame médico de retorno ao trabalho. Meu compromisso: chegar ao consultório as 11 horas. O tempo médio que eu levaria até lá, pelo horário, seria por volta de uma hora e vinte. Saí de casa com duas horas e meia de antecedência e cheguei um pouco depois das 11 horas, depois de ficar quase uma hora engarrafado. Era um compromisso avulso em que o horário nem era tão importante assim. Mas situações como essa se repetem todos os dias. Eu, por exemplo, sempre preferi chegar uma hora antes do que um minuto atrasado. Mas quantas vezes, mesmo tentando me antecipar tanto, fui surpreendido por um engarrafamento monstro as cinco da manhã? E aí, um trajeto que levaria meia hora passa a levar duas.

O mundo não é perfeito e isso não é novidade. Mas as pessoas te cobram as coisas como se ele fosse. Como se não houvesse imprevistos, como se a cabeça da gente funcionasse sempre bem, como se tristezas e aborrecimentos não interferissem na nossa rotina, como se doenças, mesmo as mais simples, não atrapalhassem nosso rendimento. Os carros batem e provocam longos engarrafamentos, os ônibus enguiçam, os sistemas dos bancos caem, falta luz na hora de passar a roupa, o pneu fura, o filho chora inesperadamente na hora de sair. São incontáveis os imprevistos que nos impedem de cumprirmos nossas obrigações, sem contar as coincidências, que fazem com que coisas assim aconteçam mais de uma vez na semana, por exemplo.

Não acho justo isso de "não fez mais que sua obrigação". Temos que matar um leão por dia, como se diz, driblar tantas coisas pra alcançar esse mínimo que é mérito, sim, quando o cumprimos. Cumprir a obrigação tem sido difícil em muitos aspectos. Podemos atribuir como obrigação um pai dar um presente a um filho. Mas quais os anseios de uma criança? Que tipo de esforço deve-se cumprir pra se agradar a um filho? Situações que nos exigem superações podem até não nos elevar acima das obrigações, mas pra cumprir esse tal básico já nos exige algo mais, ou seja, a gente vai além da obrigação pra cumprir outras obrigações. Um esforço não visível que estamos acostumados a não receber reconhecimento.

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