Procurador de coisas

sábado, 1 de dezembro de 2012

TINHA QUE SER

Tinha que ser preto. Tinha que ser pobre. Tinha que ser mulher. Tinha que ser gordo. Tinha que ser viado. Tinha que ser velho. Tinha que ser flamenguista. Tinha que ser taxista. Tinha que ser funcionário público. Tinha que ser crente. Tinha que ser, tinha que ser, tinha que ser...

Lendo as postagens e reportagens a respeito de Joaquim Barbosa, negro e pobre que venceu na vida sem cotas, sem bolsa, sem pró isso, pró aquilo, me lembrei desse tipo de expressão que falamos o tempo todo. Quem nunca disse isso? Mas é o que realmente pensamos? É preciso separar as coisas. É que quem ouve procura entender como ofensa. Acredito que na maioria das vezes não ocorre racismo ou bullying. Quase sempre é um (injusto) desabafo.

Eu mesmo já mencionei várias frases dessas. Imagine eu dizer que alguém fez algo de errado por ser velho, tendo eu pais velhos. E claro que ser gay ou flamenguista não denota falta de caráter. Quantas vezes já disse "tinha que ser funkeiro!" mas os funkeiros trabalham comigo, assim como os pagodeiros e eu não tenho problemas com nenhum desses. Mas é óbvio que se eu quiser paz e sossego na minha casa eu vou mandar um bom e sonoro "tinha que ser funkeiro", sim! Óbvio que se eu tomar uma fechada de carro de um cara com a camisa do Flamengo eu vou relacionar o fato ao time dele, pois sou vascaíno. Mas eu sou rodeado de flamenguistas que dirigem bem, mal ou não dirigem. Não se trata de preconceito, mas de uma ofensa.

O ser humano é assim. Se defende tentando diminuir os outros. Humilha o garçom, o balconista,  o operador de telemarketing. Penso que a coisa, quando dizemos o famoso "tinha que ser", na verdade, estamos atribuindo a característica ruim ao fato de ela ser gorda ou crente. Aí fica esse ciclo sem fim. O vascaíno falando que é porque  sujeito é flamenguista, o flamenguista dizendo que o motivo é o cara ser gordo, o gordo acusa o seguinte por ser preto, o preto colocando a culpa na mulher... Quando na verdade a culpa é porque somos seres humanos, essencialmente imperfeitos.

Claro que não é nada bonito ficar apontando as pessoas e atribuir erros por cor, religião, time ou que quer que seja. Mas acho que essas atitudes não são preconceito porque acusamos pessoas que são do mesmo tipo que nos rodeiam. Acho que a dimensão deve ser dada a cada situação. Embarreirar a entrada por ser negro ou judeu é preconceito, sim. Atribuir defeito pelo mesmo motivo é ofensa. Uma ofensa isolada, eu diria.

Podem me dizer o que quiserem. Aliás, pro que forem me acusar, podem dizer: tinha que ser Cristiano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fala você que eu tô cansado...