Procurador de coisas

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa mas a dor causada por ela certamente não tem fronteiras. Uma vez experimentada a presença de quem se ama, pode se preparar: essa coisa voraz chamada saudade vai perturbar. Parece uma mera palavrinha inocente mas é capaz de deixar a gente tonto, sem norte. Sentir saudade é dar vazão à emoção e conter a razão. A saudade permite que os mais loucos e insanos pensamentos invadam a mente. Saudade é pedir: por favor, me deixe louco para que eu possa cometer atos intuitivos sem culpa. É tentar vencer o impossível com o que parece mais óbvio ao coração.

Ouvi dizer que saudade não tem plural. Não sei se é, mas deveria. Sua singularidade já desmonta, faz esmurrarmos as paredes, dá vontade de gritar o mais alto possível. Saudade só não é singular no seu sentido, pois é um conglomerado de sentimentos, de desejos e loucuras. É uma mistura tão louca que entender fica impossível. Ela causa miragens e faz escorrer pelos olhos os seus excessos. Causa uma lágrima amarga que vai se adocicando à medida que a imagem da pessoa se forma e que as lembranças boas invadem o pensamento.

Mas a saudade, a minha saudade, poderia ser pior. Lá longe, tem alguém sofrendo a mesma dor. Sorte que a matemática da saudade é diferente, pois quando se juntam duas saudades de pessoas que se amam, elas não se duplicam, mas se dividem. Melhor ainda é saber que dela se subtrai quando o tempo passa e se aproxima o momento de que ela desapareça. Expectativa e esperança são antídodos eficazes contra esse terrível mal, desviando a atenção da mente e do coração para desenharem com traços cada vez mais fortes os momentos que serão revividos ou criados. Sorte que existe o tempo, que aos poucos vai esfarelando esse mal e transforma a dor em prazer aos poucos, sem que a gente perceba, mesmo que o tempo pareça eterno entre um momento e outro.

Mas a saudade se ri, tem sua vingança sobre o tempo, pois esse se apressa enquanto nós, desapercebidos, nos entregamos profundamente aos bons momentos até que ele nos dá o aviso de que sua generosidade está se esgotando. A saudade espera pacientemente o momento certo de o tempo sair de cena, pois mesmo que quisesse, nada poderia fazer. Enquanto isso, a saudade está ali, se alimentando da alegria alheia e sintetizar numa triste despedida enquanto o tempo, fraco, nada pode fazer senão voltar a se arrastar lentamente. E então, vem ela, avassaladora.

Agora, eu me rio dela, pois da mesma que me causa dor, tiro as certezas de que ela é um sintoma de felicidade. Ah, saudade! Você quase me derrubou, quase me fez pensar sua maldade me faria um grande mal. Não foi dessa vez e nem adianta tentar de novo, pois o tempo sempre me dará a certeza de que vez ou outra você fraquejará.

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